O dia em que o Rio Gravataí quase foi em direção ao mar. O canal partiria do Banhado Grande, que alaga parte do interior de Viamão

O Rio Gravataí e parte alagada do Banhado Grande, em Viamão. Foto: Arquivo/Site www.seguinte.inf.br

Entre 1941 e 1943, plano para inverter curso do Rio Gravataí rondou a mesa das autoridades como solução para evitar enchentes em Porto Alegre. Do Banhado Grande, costearia Águas Claras, passaria por Capivari e Palmares do Sul até desembocar no mar

Era um plano ousado: ‘escavar’ um imenso canal entre o Banhado Grande e o mar para inverter o curso do Rio Gravataí e tranformá-lo no extravasor de eventuais novas enchentes da capital dos gaúchos, Porto Alegre. O plano foi lançado na Sociedade de Engenharia do Rio Grande do Sul entre 1941 e 1943, mas acabou soterrado pelo alto custo — o colapso ambiental que poderia gerar em toda a bacia do Gravataí não fora levada muito em conta.

Em maio de 1941, Porto Alegre viveu a maior enchente de sua história — até que a de maio de 2024 a superasse. Dados do Boletim Municipal de Porto Alegre, publicados pelo jornalista e escritor Rafael Guimaraens no seu livro ‘A Enchente de 41’ contam que entre os dias 10 de abril e 14 de maio de 1941 houve 619,4 milímetros de chuva sobre a capital em 22 dias. Numa cidade que contava, no primeiro ano da década de 40, com cerca de 272 mil habitantes, 70 mil ficaram flagelados em maio de 41.

A tragédia social era imensa, mas os prejuízos financeiros tanto da cidade quanto dos grandes empresários contemporâneos à enchente se tornaram incalculáveis. Era preciso um plano para que o fenômeno assustador jamais se repetisse. Não está claro quem, exatamente, sugeriu a inversão do curso do Gravataí. O plano também é citado no livro de Rafael Guimaraens, que incluiu ainda um mapa do novo curso do rio: do Banhado Grande, ele costearia Águas Claras, em Viamão, passaria por Capivari e Palmares do Sul até encontrar uma colônia de pescadores entre Pinhal e Quintão.

Certamente, o plano surgiu de uma constatação hidrológica válida até hoje: dos rios que compõe a grande bacia do Guaíba, o Gravataí é o único que registra o fenômeno do ‘refluxo’; quando as águas estão mais baixas em seu leito, o fluxo se inverte e ele recebe água do Guaíba em vez de fornecer a ele. Alguém deve ter pensado que, havendo uma saída para o mar, a inversão de fluxo do rio daria conta de extravasar para o Atlântico as cheias do Cai, Sinos, Taquari e Jacuí, que se acumulam às portas de Porto Alegre.

O plano restou definitivamente arquivado em 1943 quando o engenheiro Hildebrando de Araújo Góes, diretor do Departamento Nacional de Obras de Saneamento, o DNOS, foi homenageado pela Sociedade de Engenharia. A 10 de maio daquele ano, dois anos após a desastrosa enchente, ele apresentou o chamado Plano de Defesa de Porto Alegre Contra as Cheias, já prevendo a construção dos diques, um sistema de comportas de aço e casas de bombas, o aterro onde hoje está o Parque Marinha do Brasil e o estádio Beira-Rio e muro da Mauá — então, chamado de muralha, com três metros de profundidade e outros três de altura, por 2,6 quilômetros de extensão.

Mas esse já é outro papo.

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