Não era um bicho de estimação. Mas era gato. Circulava de jeans surrados e camiseta manchada de tinta pela Avenida Venâncio Aires. O dia estava nublado. Mas perto dele, a sensação era de pleno sol. Desceu do carro e rumou até a escola de informática.
Sua pretensão era fazer um curso sobre vídeos digitais. Queria compreender a breve história da montagem das imagens. Talvez no fundo, quisesse mesmo era ser filmado. Talvez alguém já teria dito a ele que era lindo.
Pensava seriamente em se tornar cineasta. Destes que ganham “Kikitos” em Gramado. Destes que sonham alto. Talvez, com alguma obra cinematográfica inscrita no Festival de Cinema de Cannes. Mas eis que adentra à Escola. Com seus longos cabelos castanhos, alta pretensão profissional e olhar Rodolfo Valentino.
As colegas da informática deveriam se perturbar com a presença dele. Logicamente, as apreciadoras de gatos. Fez a matrícula e, semanalmente dirigia-se à central de ensinamento. Estudando muito. Como convém aos gatos inteligentes.
O gato da Venâncio era de Porto Alegre. Um “gúri mui lindaço”, diriam as tradicionalistas. Tinha pais gaúchos. E avós colonizadores do Rio Grande do Sul que, mesclaram suas raças: alemão, francês e italiano. Daí sua pele maravilhosa. Daí sua estatura. Daí sua sede de conhecimentos e, sua presença marcante. Tanto nas aulas de informática como no verão na Praia da Joaquina. Nos bares, regados a chopp e ensolaradas ruas de Floripa.
Era um apaixonado pelo mar. Surfava amadoristicamente. Mas sempre compenetrado. Outubro estava chegando. E a vontade de rever o mar era grande. Assim que a Escola de Informática lhe conferisse o diploma de conclusão do curso, ele viajaria para Florianópolis. Rever amigos, surfar e falar de cinema com as garotas. Que entusiasticamente, eram apaixonadas por ele. Seu nome, Felício Benetti. Portoalegrense de coração e nascença. E, belo. Muito belo.