O legado de Jefferson é um coração imenso

Jefferson e sua familia, em foto de setembro do ano passado

Ele teve uma carreira curta na política, abreviada por um mandato em que passou lutando contra as consequências do AVC de 2013 – mesmo assim, deixou uma marca

 

Pessoalmente, convivi pouco com o então vereador Jefferson Huffell. Estou em Viamão desde outubro de 2013, mas no começo da minha atividade no Diário, não cobria a política.

Até o dia em que surgiu a notícia de que ele, Jefferson, teria contratado o tal assessor fantasma.

Isso já em 2014.

O caso não era exatamente novo – mas interesses políticos haviam requentado a história. Começava ali um longo e infrutífero processo que buscava o mandato de Jefferson por uma suposta quebra de decoro parlamentar. Era notícia: fui atrás. E a primeira providência foi pedir para conversar com Jefferson, que me recebeu prontamente em seu gabinete numa tarde fria de maio daquele ano.

Ele e sua esposa, Simone, também professora da escola Isabel de Espanha, a companheira inseparável de todas as horas boas e ruins.

Jefferson estava com muita dificuldade motora e não conseguia conversar direito. Simone, mais acostumada a entender o marido, foi a "intérprete" do que ele dizia. Vivendo a mesma história que ele, ela também tinha o que dizer.

A impressão que ficou daquela conversa foi a de um homem íntegro e que não tinha o que esconder. Não sei dizer se Jefferson errou ou não ao contratar o assessor que depois ficou famoso pelo caso. Mas Jefferson não fugiu das perguntas.

– Meu pai trabalha com construção. Porque contrataríamos alguém de fora? – disse Simone, na época.

Jefferson tinha sido tesoureiro e diretor do Isabel de Espanha – uma escola com que desenvolveu uma relação de afeto especial. Conhecia, portanto, normas e a legislação de contrações públicas, princípios legais parecidos com os que regem a atividade legislativa.

– Essa denúncia é política – confirmou ele.

 

A política é difícil, não a luta pela vida

 

Nunca foi julgado pelo caso, mas o fato de enfrentar a denúncia no momento mais crítico de sua recuperação do AVC deixou mágoas visíveis em Jefferson. Em 2015, perto do final do ano, ele parecia desapontado com tudo que estava passando. A doença, dizia ele, dava para tirar de letra.

– A política é que é difícil.

Pensou inclusive em não concorrer à reeleição, o que sabia que seria um processo bastante difícil devido às restrições motoras que ainda enfrentava. Mas em janeiro de 2016, já estava com as esperanças renovadas, resolveu enfrentar as urnas novamente.

– Foi um grande parceiro, estava ele e sua equipe em todas as atividades. Muitos que passam pelo que ele passou entram em depressão – comenta o prefeito André Pacheco, que concorreu ao lado de Jefferson em 2016.

– Ele seguiu sua trajetória apesar das doenças que enfrentou. A determinação dele de trabalhar e não abandonar a vida eram muito grandes. Foi uma grande perda.

 

Depois da campanha, um novo drama

 

Os 45 dias de campanha foram insuficientes para que Jefferson obtivesse os votos que lhe dariam um segundo mandato. Fez 593 numa eleição em que nomes consagrados pelas urnas perderam eleitores e, para Jefferson, essa queda foi a definitiva.

A doença voltou a dar sinais de vigor ainda no final de outubro. As visitas ao médico voltaram a se tornar frequentes. Daí, amigos e vereadores perceberam que Jefferson tinha algo mais a tratar do que as consequências do AVC de 2013.

Alguns desconfiaram de um câncer.

Depois do AVC, a segunda provação do professor Jefferson e a luta contra a qual perderia a vida em uma tarde chuvosa de fevereiro deste ano.

 

25 projetos em 4 anos

 

Jefferson Huffell foi um vereador atuante no parlamento. Apresentou 25 projetos de lei em quatro anos de mandato – a maioria sobre Educação, Cultura ou terapias alternativas e de lazer. Para conferir a lista completa de projetos do vereador Jefferson, clique aqui.

Um deles, por exemplo, autorizava a prefeitura a implantar a Educação Financeira de forma transversal e interdisciplinar nas escolas da cidade. Outro criava a Memória da Educação Municipal – um projeto para resgatar iniciativas de educadores que merecem destaque na comunidade.

Jefferson também propôs a criação do Novembro Dourado – um projeto para simbolizar o combate ao câncer infanto-juvenil e outro que previa uma campanha permanente de prevenção e combate ao assédio sexual no transporte coletivo da cidade.

Alguns podem não saber, mas o último projeto de Jefferson a ser votado em 2016 autorizava o governo a criar um espaço para uso de terapias holísticas na cidade de Viamão. Atividades que não são consideradas tratamento de saúde mas ajudam a dar qualidade de vida a quem se trata pelo SUS, como Reiki, cronomoterapia e florais, por exemplo, podem ser adotadas na cidade por iniciativa de Jefferson.

 

Ex-prefeito Valdir Bonatto esteve no velório de Jefferson esta manhã

 

Despedida antes da cremação

 

Família, amigos e colegas professores se despediram esta manhã com um velório que foi acompanhado por dezenas de pessoas durante toda a madrugada.

Por volta das 11h, uma cerimônia ecumênica reservada à família marcou a despedida do ex-vereador, que teve o corpo cremado no Cemitério e Parque Saint Hilaire.

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