O não amado

Insuportável ! Esta era a denominação certa para aquela figura. Tão Bukowski, tão mundano.Ora genial, ora medíocre. Ora de alta moral. Ora fútil! No mundo social dispunha de boa reputação.Mas na roda do bar,tido como o maior beberrão da cidade.  Ser humano complexo. Agora, envelhecia. Já não era o mesmo.Que arrasava corações. Que esbanjava charme. Que encantava e escravizava as mulheres. Agora as rugas desciam pela testa. Toda manhã no espelho do banheiro, lamentava. Até se assustava.

Insuportável ! A família já não o entendia. Estava quase senil. Com 78 anos, era mais que um velho. Estava carcomido. A destruição chegava por conta  da boêmia , dos cigarros e das bebidas. Como sempre, em seus ápices de loucura bipolar, decidia morar sozinho na praia. Talvez a família, estivesse também cansada dele. Daquela torpe convivência.

Insuportável! Lá se foi ele para um pequeno balneário ao norte do Rio Grande do Sul. Na praia não falava com ninguém. Arredio. Fechou-se em seu mundo de caduquise e lembranças toscas. Mesmo que quisesse, dificilmente alguém lhe daria atenção. Seus assuntos giravam sempre sobre o submundo. Usava  expressões de baixo nível. E, suas experiências,sempre foram de uma vida errada. Doentia. Certo dia na capital, até o psiquiatra fugiu dele.

Insuportável ! A ex-mulher o abandonou. Ela convivia ,agora, amigavelmente, com o Tobby. Um cachorrinho de porte pequeno que lhe fazia companhia. Lembranças da vida com o marido ela tinha muitas. Mas queria esquecer. Era uma mulher forte. De temperamento severo. Não aceitava o modo desregrado com que o marido vivia.

Insuportável! Apesar da excelente cultura ele beirava a estupidez. Seco, grosseiro. Só ele tinha razão. Ninguém era digno de sua amizade. No passado sim. Tinha letrados,compositores, e putas em sua lista de amigos. Amarga, na praia agora, a mais dura solidão.Talvez em retorno às pessoas que o amavam.E que ele  tanto desprezou.

Insuportável! Sem crer em Deus,sem família,sem as mulheres que amou.Sem ao menos o médico da mente para lhe entender, vive em desolação. Não aceito nem mesmo pela natureza. Que antes dos temporais, perto do mar,onde reside agora, traz um vento ensurdecedor para seus ouvidos. Como que, também o rejeitando. Como que não o amando.

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