Quando uns estranharam a informação do Diário que "plantou" Dédo Machado (PDT) no secretariado de André Pacheco, prefeito eleito pelo PSDB, a gente resolveu contar porque acredita que o pedetista ainda pode pintar no primeiro escalão do tucano
Tudo começa lá por outubro ou novembro de 2015. Dédo era presidente da Câmara, filiado ao PT. André Pacheco estava sem partido, havia deixado o PMDB e namorava o tucanato. Tomava a frente de ações do governo, comandava o mutirão contra a dengue – mas vivia sob a sombra insofismável da possibilidade de Valdir Bonatto concorrer à reeleição.
Se Bonatto fosse, era certo que teria de entregar a vaga de vice a um novo aliado.
Ou para o aliado de sempre: o PMDB.
Nas duas contas, André Pacheco era o 9 que ficava de fora.
Num cenário em que precisava por à mesa uma novidade, Sarico Moura – o capo do PMDB – convidou Geraldinho Filho do PSB e Dédo para uma rodada de chopp, petiscos e muitas especulações. Entre elas, o futuro do partido na chapa do governo.
Foi a partir dessa conversa que Sarico pôs em curso o plano que teria levado Dédo à vice na chapa que acabou ganhando a eleição – aquela altura, ainda que sem saber se o cabeça seria André ou Bonatto.
Sarico, o cara do PMDB em Viamão, viu em Dédo a chance de ter um aliado próximo no governo
Na espuma do chopp, a visão do futuro
Naqueles dias, Sarico convidou Dédo para deixar o PT e filiar-se ao PMDB. Construiriam por dentro da base aliada a indicação do então presidente da Câmara para vice. Esperavam que de Bonatto – a rusga entre André e Sarico ainda era uma ferida viva entre eles.
É de se lembrar que final do ano passado, Bonatto era tido como favorito. E, a bem da verdade, André não passava de um azarão. O PSol, por exemplo, acreditava que se Bonatto concorresse, o candidato deveria ser Guto Lopes, eleito vereador este ano. Contra André, preferia Romer Guex – que imaginavam ter chance de vencer o atual vice nas urnas.
Com Dédo no PMDB, Sarico teria uma moeda mais forte para por à mesa na sucessão. Dédo traria consigo uma turma de candidatos a vereador – entre eles, Rodrigo Pox, o único eleito pelo PDT, que desbancou Eda Giendruckzak, que tentou a reeleição. E poderia "comer" uns votinhos entre os que, enfim, eram tidos como da oposição.
Se pudessem fechar o plano com Geraldinho, que estava em tratativas avançadas para entrar no governo, acreditavam que não teriam qualquer resistência entre os demais partidos da base.
Dédo, enfim, era o nome forte do PMDB para vice – não Russinho Elias, que acabou indicado candidato. Russinho nunca foi chegado a Sarico. Eram até desafetos, os dois.
Geraldinho Filho (e) participou do primeiro papo entre Sarico e Dédo
Combinando com "o russo" que vale
Nessa altura do campeonato, Russinho também queria Dédo no PMDB. Corria por fora para ser indicado a vice e achava que se conseguisse convencer o petista a trocar de lado, teria ele, Russinho, a moeda forte na mesa a seu favor.
Só que "o" russo dessa história não era Sarico, nem Russinho. Era Bonatto.
O Diário não sabe dizer se Valdir Bonatto concordaria com a indicação de Dédo como vice na chapa do governo – mas também não se sabe se era contra, na época.
Dédo e Bonatto, no final de 2015, andavam conversando bastante. O primeiro, presidente da Câmara. O segundo, prefeito. Quebravam galhos um para o outro. Até que se desentenderam sobre a emenda do então deputado Ronaldo Zulke para compra de máquinas para Secretaria de Agricultura.
Faixas foram para praça cobrando que o governo comprasse as tais máquinas – que, dias depois, foram para praça dizendo que o que faltava, era o recurso não liberado ainda.
Dali para frente, só relações institucionais.
A presidência decidida no detalhe
O plano de levar Dédo para o PMDB parece ter ganho o fundo de uma definitiva gaveta na eleição para presidência da Câmara. Carlos Bennech (PMDB), o candidato do governo, perdeu para Xandão Gomes (PRB), candidato de Dédo.
Russinho tentou remendar uma composição que havia sido tentada antes – e fez água.
Sarico, Bonatto e Geraldinho também. Em vão.
A eleição de Xandão mostrou que Dédo tinha – e ainda tem – personalidade para influenciar politicamente os colegas e as bancadas a que pertencem. Mas deve ter mostrando, também, que a luz que ilumina o ex-petista poderia ofuscar a parceria com André. Se Dédo se sentisse destemido para enfrentar o prefeito, depois de eleito vice, onde pararia?
Saída pela esquerda, como o leão-da-montanha
Dédo certamente cogitou uma entrada no PMDB, com garantias de Sarico de que não sofreria o bulling natural que recai sobre alguém que deixava o PT nos meses do maior tombo do partido em toda sua história. Quem convivia intimamente com ele, no entanto, sabe que a reflexão que fazia tinha um viés ideológico, também.
Dédo foi filiado e militante do PT por 23 anos.
Poderia arriscar tudo na oportunidade que tivesse – só não poderia apostar contra a própria história. Acabou optando pelo PDT.
A opção de esquerda que lhe permitia manter a proximidade com Daniel Bordignon, ex-deputado e ex-prefeito de Gravataí – o cara que indicou Dédo para o cargo que ocupou no governo Tarso Genro por dois anos. Bordignon, como Dédo, também deixou o PT para engrossar as fileiras do PDT.
Todas as fichas são de Russinho
Russinho pavimentou sua indicação a vice com uma costura que teve os dedos, a mão e o braço todo de Bonatto, na última semana antes da convenção que escolheu André Pacheco como cabeça de chapa.
Dédo levou a indicação pelo PDT, mas se viu isolado sem a unidade da oposição: dando o troco por tê-lo visto sair do partido, o PT lançou candidato – e ainda levou com ele Zé Lima, do Solidariedade, até então aliado de Dédo. Xandão, que teve a eleição para presidência da Câmara garantida por uma palavra de Dédo no final de 2015, se bandeou para o lado do governo. O PTB, que ameaçou ir com o PT ou com Dédo, acabou bancando a aventura de Andreia Gutierrez.
Nem vice até o dia da convenção Dédo tinha.
E é aí que ele se aproxima de André Pacheco, o tucano que virou prefeito.
Um marcador para o Ridi
A insistência da candidatura de Dédo Machado certamente tirou votos que poderiam ter sido de Ridi – o candidato da oposição que foi mais longe na disputa contra o governo.
Não que Ridi tivesse ganho se Dédo não concorresse; mas nos termos em que a eleição terminou, o governo não terá trabalho algum para impor sua vontade à Câmara e, de quebra, chegará à sua própria sucessão em 2020 com os dois ex-prefeitos do PT sem mandato e a oposição reduzida a aposta do PSol.
A candidatura de Dédo, mesmo sendo da oposição, prestou um favor a André Pacheco. E um favor desse tamanho é uma grande carta para se por à mesa.