O DV reproduz o artigo de Juremir Machado da Silva, publicado pelo Matinal Jornalismo
Eu sempre quis entender o Brasil.
Por isso estudei história, antropologia, sociologia e comunicação.
Nas horas vagas, debulhei a literatura nacional. Continuei com dúvidas.
“Macunaíma” me fez pensar que havia entendido nossa brasilidade: “um país sem caráter”. Entendi que era sem uma marca profunda.
Ou seria falta de caráter? Um país mau caráter?
Sergio Buarque de Holanda me confundiu com seu slogan publicitário: “O brasileiro é um homem cordial”. Um homem gentil?
Havia uma pegadinha na sacada do pai do Chico Buarque: ele estava falando de homem que age com o coração: impulsivo, emocional.
Um homem cordial pode matar sem pensar.
É o que mais acontece nesta país de mortandades cruéis.
E assim fui de livro em livro em busca de uma explicação.
Como foi que o país que sofreu com uma ditadura de mais de duas décadas elegeu presidente da República um capitão de parca inteligência e grande saudade desse odioso regime militar?
Então me veio esta fagulha: o brasileiro é antes de tudo um reacionário, um conservador, um moralista de cueca, um autoritário.
De onde tirei isso? Poderia ser dos textos de Nelson Rodrigues.
Mas é das páginas dos jornais de 1964, 2016, 2018 e 2022.
Qual brasileiro? Todos? Claro que não. Só o suficiente para eleger um Jair Bolsonaro e blindar a sua família de investigações.
O tal “mercado”, que apoiou o regime de Pinochet no Chile, abraçou-se com Jair Bolsonaro, mesmo tendo enchido as burras de dinheiro com Lula, e bancou o mais abjeto de nossos presidentes.
Enquanto países vizinhos prendiam seus ditadores, o Brasil protegia o seu passado com uma anistia sob medida e depois elegia os herdeiros da sua ditadura sem se importar com elogios públicos a torturadores. Quando Bolsonaro votou pelo impeachment de Dilma Rousseff saudando o torturador Brilhante Ustra deveria ter sido cassado por quebra de decoro e por ter matado as aulas de história.
Saiu dali a caminho do Palácio do Planalto.
O brasileiro é antes de tudo um bolsonarista?
Não ofendamos os brasileiros.
Apenas uma parte, em torno de 25%. No máximo, 30%.
Outra parte é oportunista.
Ferra o país por bons negócios.