Tinha qualquer coisa incompreensível naquele olhar.As vezes parecia terno. Em outras, olhos de muita raiva. De onde vinha tudo aquilo. Da infância, de outras vidas ou desofrimentos sentidos.O título do livro adquirido agora, na livraria era “Olhos de Seda”. Poderia ser, se mais pessoas a amassem, se não fosse necessário tanta divulgação de seus feitos, suas glorias e desencantos.
Ainda assim e sempre se orgulhava de humanidades não feitas. De glórias sem sentido e principalmente pelo sabor da vida, sem nenhum tempero de verdadeiro amor. Ela era em verdade, uma pária. Sem reconhecimento e semnenhuma vontade rir de si mesma. Lhe faltava humildade para reconhecer que era só uma mulher sem méritos.Lhe faltava concluir seus feitos negligenciados.
Orgulho sim ela tinha. Sobrando até. E foi lendo página por página daquele livro e entendendo que não tinha sentido viver assim. Tudo que planejava, flutuava no ar,como um avião nas nuvens. Depois dores de cabeça e vômito, como se estivesse grávida.Se reconhecia parca e pobre. Principalmente de espírito, já que nunca teve fé em nada. A não ser no seu eu, desprovido de causa. Só de efeito. Não vivia, apenas vegetava.
E no fim quando chorava se achava o lixo do lixo. Nenhuma aptidão para nada. Sópara complicar a vida de todo mundo.E assim assombrada e expurgada de seu pequeno eu, pensava em alguém que a protegesse do caótico mundo, no qual se escondia.Neste submundo nem o escuro a protegia. E foi concluindo a leitura, quando num lapso pensou em Deus. Foi sua mãe quem um dia, a ensinou a rezar um Pai Nossoe foi seu pai que lhe falou do Espírito Santo. Sem necessidade de choro, neste dia acabou rindo de simesma. E acordou para o problema que a afligia. Se não era quase nada porque se vangloriava.
Entendeu que só conseguiu achar graça de sua existência quando sedescobriu adulta.E foi lá para os Monges da Índia tentar compreensãomaior. Se atingiu seu intento, ninguém sabia. Mas desta vez, tentou ser menos pobre de espírito e aceitou asuperioridade do desconhecido.Notadamente da espiritualidade. (Ana D´Avila)