Prestes a se formar, Ana Paula doa os cabelos em apoio à causa

Ana Paula e o marido, que também se sensibilizou com causa

É possível que quando você clicou nesta matéria e olhou a primeira foto desta moça careca, tenha pensado instintivamente: aí vem mais uma bela história sobre a luta contra o câncer. Logo, vamos adiantar: Não. Essa não é uma história sobre doença, é uma história sobre vida e inspiração. Sobre a nobreza de se colocar no lugar do outro.

Ana Paula Rainck, 32 anos, sempre foi envolvida com causas sociais. Ajudar o outro sempre a fez bem. Mas, de um ano para cá, ela se preparou e criou coragem para fazer algo mais radical. Decidiu raspar a cabeça e doar o cabelo para se solidarizar com as mulheres que enfrentam o câncer de mama. Mas, principalmente, para sentir na pele como podem ser maldosos os olhares das pessoas na rua.  

— O mais interessante é observar o comportamento e a reação das pessoas na rua. Aquelas que ficam me encarando mais incisivamente, eu tento me aproximar e conversar. Foi para isso que eu decidi raspar a minha cabeça, para chocar. Para fazer as pessoas pararem e pensarem no assunto. Sempre fui assim: diferente, curiosa, radical, minha família já esperava isso de mim.

Ana Paula diz que sofreu muitas criticas de conhecidos, família e amigos. Porém, hoje todos entendem e respeitam sua motivação.

— Eu conversei com meu marido e meus filhos e eles me apoiaram na hora. Meu marido, inclusive, raspou a cabeça também. Para meus pais já foi um pouco mais difícil, por serem conservadores. Mas ouvi muito de amigos e conhecidos que o que eu fiz foi loucura, exagero. Mas eu sempre digo: meu cabelo não muda quem eu sou ou a minha personalidade. Por que é errado? Cabelo cresce de novo e eu não estou ferindo o meu corpo.

Natural de Santa Cruz do Sul, Ana mora em Viamão desde que o marido foi transferido para a cidade há seis anos. Atualmente, é presidente do Grupo de Mulheres da Igreja Quadrangular Jardim Universitário. Em dezembro, ela irá se formar em pedagogia, um sonho seu e de sua avó.

— Nós já fizemos conversas e eventos para divulgar a causa. Ano passado eu distribui botons e presilhas de cabelo com flores cor-de-rosa. Foi bacana, mas senti que precisava de uma ação de maior impacto. A ideia inicial era raspar a cabeça depois da formatura, mas não consegui esperar. Vou me formar careca mesmo, não quero perucas  — brinca Ana.­

 

Grupo Viamama recebe o cabelo de Ana Paula

 

A DOAÇÃO DE CABELO PARA O VIAMAMA

Ana, que atualmente freqüenta algumas reuniões do Grupo de Apoio às Mulheres com Câncer de Mama de Viamão (Viamama) conta que conheceu o trabalho das meninas por acaso.

— Eu tinha acabado de raspar a cabeça e tinha ido à farmácia com meu marido. Quando entramos, vi aquele grupo de rosa. Logo, uma se aproximou de mim para se apresentar e conversar. Mas, falei de cara para ela que eu não estava doente e expliquei toda a história. Elas adoraram. Como eu ainda não tinha doado o meu cabelo, decidi que iria deixar para a cidade onde vivo. O processo de confecção de perucas ainda é lento e, muitas vezes, precisa até três doações. Por isso, acho que ainda não está pronta. Estou super curiosa para vê-la.

E pensa que ela pretende parar? Não. Ana diz que vai deixar o cabelo crescer novamente para cortá-lo assim que tiver tamanho suficiente para a doação.  

— Eu pensei que pudesse me arrepender ou que não fosse gostar do resultado. Mas eu me senti tão bem, tão leve, nem lenço ou peruca eu uso. Havia ganhado vários, mas estão todos guardados. Às vezes, eu até esqueço que estou sem cabelo. No dia que fui raspar, a cabeleireira tentou me convencer a deixar apenas curtinho, mas não raspar. Mas não, fui firme e raspei.

 

Ana Paula com os cabelos longos

 

A DESCOBERTA DO CÂNCER DEPOIS DE RASPAR O CABELO

Logo depois que raspou cabeça, no dia 4 de outubro, a família de Ana descobriu que seu pai está com diversos tipos de câncer espalhados pelo corpo. Ela diz que estar envolvida na causa e conversar com pessoas que passaram por isso, ajuda a enfrentar este momento difícil.

— Eu estou conseguindo lidar melhor com a situação por tanto pesquisar e conversar com pessoas que enfrentam que este problema. Foi um choque. Tenho sido uma força dentro da minha família. É importante dizer que as pessoas precisam passar pelo problema para se solidarizar com a causa ou para entender as dores do outro. Não deveria ser assim. Pode acontecer com qualquer um, a qualquer momento.

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