Única mulher eleita para a Câmara de Vereadores de Viamão, Belamar Pinheiro, 52 anos, acredita que sua força na política se deve ao apoio que recebe da família. Ser mãe, dona de casa, esposa e encarar a rotina pesada da vida política, para ela, é um dos principais motivos da baixa representatividade feminina na política de Viamão e do país.
— Esse é um problema que não é só daqui. Nem vou entrar no mérito do preconceito e da falta de união entre as próprias mulheres. Mas tem um dado que é bom pensar: 51% do nosso eleitorado é feminino. Por que só eu fui eleita? O ideal seria que metade da Câmara fosse composta por homens e a outra metade por mulheres. Eu sei que cheguei aqui até hoje e consegui realizar um bom trabalho pela minha base familiar, que me apóia, incentiva e entende a minha ausência.
De passagem pela Câmara pela segunda vez (a primeira foi em 2008), ela diz que pretende dar seguimento ao trabalho que realizou durante os últimos três anos e meio como secretária de Assistência Social.
— As comunidades menos favorecidas continuaram sendo a minha prioridade. A Assistência Social não é a minha área de formação, mas é onde eu me achei, onde pude conhecer a realidade e ter uma visão muito maior vivendo a prática. Quando assumi a secretaria, junto com o prefeito Bonatto, em 2013, éramos uma salinha pequena que ficava embaixo de uma escada. Hoje mudamos de prédio, avançamos com os projetos, reformamos cinco dos seis Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), inauguramos dois espaços fundamentais para o processo de ressocialização das pessoas em situação de rua – o Albergue Noturno e o Centro POP e firmamos o convênio com o Abrigo João Paulo II para os menores.
Apesar de a assistência social ser o foco de Belamar, ela afirma que fará um mandato para todos os habitantes de Viamão e que irá fiscalizar os projetos de todas as áreas, como por exemplo, o novo contrato da prefeitura com a Corsan, firmado no final de 2015. Nele, ficaram estabelecidas metas a serem cumpridas imediatamente a curto, médio e longo prazo no abastecimento de água, tratamento de esgoto e redução de perdas. Os investimentos que a Corsan realiza terão prazo máximo de 40 anos para serem feitos.
— Quero acompanhar e fiscalizar o contrato da prefeitura com a Corsan para que ele seja cumprido. É claro, que por ser mulher, é difícil não ter um olhar diferenciado para as causas femininas, meu gabinete estará aberto para as mulheres que quiserem ser porta-voz de algum projeto bacana. Porém, é importante deixar claro que pretendo trabalhar para todos.
DE SOLEDADE PARA VILA ELSA
Nascida em Soledade, Belamar passou um tempo em Brasília e depois acabou retornando para o Sul novamente. Aos 18 anos, foi convidada para ser prefeita de Fontoura Xavier (região que foi emancipada de Soledade em 1965).
— Eu sempre dizia que jamais iria me envolver na política. Acabei não aceitando. Era um município muito pequeno que naquela época deveria ter em torno de três mil habitantes.
Mário Sérgio, marido de Belamar Pinheiro
Há 30 anos casou com Mário Sérgio e se mudou para a Vila Elsa, região onde vive até hoje junto com seus três filhos e cinco netos.
— Quando nos casamos ele tinha nada e eu tinha nada e meio. Iniciamos uma empresa de gesso com apenas um saco. Hoje temos um negócio sólido, construído com muito trabalho.
BELAMAR E A POLÍTICA
O convite para entrar na política surgiu em 2002, quando Belamar se filiou ao Partido Progressista (PP) e concorreu pela primeira vez.
— Convite veio através do José Janes Nunes, que concorreu à prefeitura na época. Eu lembro que não fiz campanha, não divulguei muito a candidatura. Acabei fazendo 1.084 votos e fiquei na terceira suplência. Nunca assumi. Naquele momento, eu percebi que eu realmente queria ser vereadora e passei a trabalhar para me eleger.
Em 2008, Belamar foi eleita pela primeira vez vereadora com 2.392 votos – a quinta melhor, também era a única mulher entre os 14 eleitos na época. Em 2012, ficou na suplência, mas foi chamada para compor o governo de Bonatto onde permanecerá até o final do ano. Em outubro, Belamar conquistou 1.281votos, ficando em 11º lugar no geral.
— Destes votos, 1078 foram da Vila Elsa e Helenita, ou seja, eu fui eleita pela comunidade onde moro — diz.
Depois de Belamar, as mulheres melhores colocadas em Viamão foram: Karine Sarico (PMDB) com 1.036 votos (26º lugar), Paulinha do Bebeto (PSDB) com 945 votos (27º lugar) e Maria Rita (PSDB) com 932 votos (30º lugar).
QUEDA DA REPRESENTATIVIDADE NO PAÍS
A Folha de São Paulo publicou uma matéria no último dia 4 que aponta que as mulheres perderam representatividade entre os políticos eleitos.
Das 5.509 cidades com eleição definida no primeiro turno, apenas 639 terão prefeitas a partir do ano que vem, um índice de 11,6%. Nas últimas eleições, em 2012, 663 mulheres foram escolhidas para administrar cidades do país, 11,9% do total.
De acordo com o último Censo do IBGE, as mulheres representam 51% da população do Brasil. A situação da representatividade feminina fica ainda pior se for considerado o número de mulheres que disputaram a eleição para prefeito, que foi praticamente o mesmo nas duas eleições: 2.032 em 2012 e 2.039 neste ano.