Açaz interessante a abordagem feita por Guto Lopes em sua coluna de estreia no jornal “O Sul” desta semana (parabéns pelo espaço!). Ele se propôs a analisar “a derrota da esquerda Brasil afora”. Acerta ao apontar, como uma das causas, “a postura das velhas lideranças partidárias de esquerda, hoje vistas como burocratizadas e arrogantes”. E sectárias, acrescento eu.
Propõe Guto um retorno aos pressupostos da luta de classes, de partidos mais comprometidos com as causas das injustiças sociais. Traz o exemplo de Getúlio Vargas e seu trabalhismo histórico — não está dito, mas se deduz de que se trata do Getúlio de 1950, não o golpista de 1930 nem o ditador do Estado Novo (1937).
Os números corroboram o que diz o ex-candidato pelo PDT à prefeitura de Viamão. Os partidos de direita e de centro ganharam de lavada. A esquerda, embora use a expressão em seus discursos, perdeu o vínculo com o “popular”. O termo peca em significado. São partidos, fundamentalmente, estatizantes — embora nascidos do sindicalismo operário.
A natureza não dá saltos. Para chegar ao poder, a esquerda teve de aderir ao pragmatismo político, em uma aliança com a direita, em 2002 e 2006, com José Alencar como vice. Era um empresário — do outro lado do balcão ideológico do petismo. A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, já deu a senha para a eleição de 2026. E passa, novamente, por uma aliança com partidos mais ao centro. Na verdade, o PT já governa aliançado com muitas dessas siglas — o lulismo é pragmático, muito mais do que o petismo.
O recado das urnas vai para além de um suposto melhor uso das redes sociais pelos partidos de direita — como sugere Guto. Seria olhar apenas para o sofá. O que está posto é a dicotomia gestão X ideologia. Vejam Porto Alegre: Maria do Rosário sustentou, inicialmente, sua narrativa de campanha em uma pauta ideologizada. Melo, com seu chapéu de palha, convenceu o eleitorado ao se apresentar como um gestor que arregaça as mangas, vai lá e faz. O resultado todos vimos.
Viamão. De novo: gestão X ideologia. Não basta apontar eventuais equívocos ou falhas, que isso é da natureza da estrutura pública, em que as demandas são infinitas, enquanto a capacidade orçamentária será sempre limitada. O eleitorado, de um modo geral, quer saber sobre soluções. O cidadão quer uma perspectiva melhor para o seu lugar de vida. Essa é a autocrítica que a esquerda não consegue fazer, porque ficou embretada pelo discurso ideológico.
O campeão dessas eleições em número de prefeituras (887), o PSD (que não tem nada a ver com o velho PSD de Juscelino Kubitschek, extinto pelo AI-2 e nunca mais ressuscitado) — que vem lá do PFL — foi criado em 2011 com a seguinte postura: “Não será de direita, não será de esquerda, nem de centro. É um partido que terá um programa a favor do Brasil, como qualquer outro deve ter”. Palavras do atual presidente Gilberto Kassab.
Haveria mais o que dizer, mas, por ora, tá de bom tamanho.