Carmen tinha visões. Carmen não controlava seus instintos nem sua solidão. Às vezes, se desesperava no caos da existência.
Principalmente para quem se questionava e necessitava saber. De tudo. Sua vida, suas emoções e do que nós, humanos, nos constituímos em nossas essências.
O muito que queria, talvez, não fosse só satisfação carnal. Era mais. Queria saborear o prazer de estar viva. De sentir-se respeitada. E admirada por suas qualidades.
Na voraz solidão e do alto de sua maior idade, deixou-se levar pela emoção. Era necessário saber mais. Como todas as indagações às quais sempre lhe ocorriam.
Dia após dia, se questionava, tirava dúvidas, vencia interrogações. Sabia do duro da existência. Preço dos alimentos, pagar moradia e taxas e complementos.
Não era fácil viver no mundo moderno. Da economia escancarada. E que gravita em todos os países do mundo, ao som de suas moedas e de suas instituições financeiras.
Tinha um ofício. Se adaptava. O futuro só era incerto. Mas Carmen avistava soluções para seus problemas existenciais, materiais e financeiros. A economia do mundo oscilava, todavia era preciso enfrentar até as recessões.
Que não tinham solução imediata, mas eram passíveis de entendimento. O trabalho. Ah… O trabalho que dignifica. Que nos dá condições de casa e alimentos.
Às vezes, tudo parecia desgovernado. Ingeria remédios para a depressão. Que a esta altura, existia nela. Assim, estúpida e pegajosa.
E foi se auto-medicando, até atingir uma passageira serenidade. Se era um mal da mente, pouco entendia. E continuou seus dias com bons aprendizados. Entre eles, sua incansável fé em Deus, em algo maior.
Pensamentos iam, pensamentos vinham. Suas noites com o sono, descansavam seu intelecto. Já quase nulo, já tão inquieto. E que era suprido por aquele remédio ou, algumas outras vezes, por gostosos e atrevidos cálices de vinho tinto.
Carmen era assim. Questionadora. E vivia uma estória incomum. Muitas vezes, incompreensível, mas que ela assimilava com naturalidade.