A meia verdade da ’devolução’ de dinheiro da Câmara; Revoga o aumento, presidente!

Vereadores Dilamar de Jesus, Xandão Gomes, Eraldo Roggia, Evandro Rodrigues, Joãozinho da Saúde, Dieguinho Santos e Armando Azambuja comunicaram medida ao prefeito Valdir Elias, o Russinho

É uma meia verdade – e nas meias verdades uma parte fica sempre mais próxima da mentira – a badalada ‘devolução’ de R$ 2 milhões da Câmara para a Prefeitura usar no enfrentamento ao coronavírus, em Viamão.

Não é beeeem uma devolução. No padrão da esperteza política, presidente após presidente, ao fim do mandato, posta foto ‘devolvendo’ ao prefeito da vez o milhão que ‘economizou’. Mas é um dinheiro que, até ser executado, não existe, um PDF em um orçamento de ficção.

Explico, arredondando para facilitar a compreensão.

A receita estimada para 2020 é de R$ 600 milhões. O Artigo 29-A da Constituição Federal prevê que, Viamão, com 255.224 habitantes, deve disponibilizar 6% desta receita para a Câmara.

São absurdos R$ 36 milhões.

Isso os vereadores sabem. Tanto que em 2019 o Legislativo gastou R$ 15 milhões, de uma receita de R$ 500 milhões de Viamão. Seguiu uma média que tem sido histórica, de 3%, que aplicada sobre a receita de 2020, representaria 18 milhões.

Na conta da demagogia daria para ‘devolver’ R$ 18 milhões, ou nove vezes mais que os R$ 2 milhões anunciados pela atual mesa-diretora do legislativo. Os R$ 2 milhões serão uma verdade completa se a Câmara chegar ao fim do ano gastando esse valor a menos dos R$ 18 milhões, e não dos R$ 36 milhões.

Politicamente, o anúncio da ‘devolução’ era inevitável. A ficus carica da praça Julio de Castilhos testemunha que os integrantes da mesa diretora do legislativo ficaram na ponta da espada dos ‘três mosqueteiros’ da oposição.

Guto Lopes (PDT), Rodrigo Pox (PDT) e Adão Pretto (PT) foram ligeiros em mexer com a opinião pública ao apresentar a sugestão para a Câmara abrir mão do orçamento.

Entendo que, se a ideia é demonstrar a solidariedade do parlamento, abrir mão de gastar demais não é um símbolo tão bom quanto o presidente Dilamar de Jesus revogar o constrangedor aumento nos salários dos vereadores, polêmica que tratei nos artigos Vereadores sem vergonha de aumentar salários em meio à crise do coronavírus em Viamão e Projeto aumenta salário de vereadores de Viamão; o ’bolsovírus’.

Apelo mais uma vez a Jesus:

– Revoga, presidente!

Em um momento de medo no país e no mundo, e em que Executivo e Legislativo de Viamão são alvos de denúncias, não seria recomendável uma vacina contra o ‘bolsovírus’? Como conclui no artigo anterior, político que achar normal um aumento agora deveria lavar as mãos. E o rosto. Não com sabão ou álcool gel, mas com jimo cupim.

Ao fim, essa ‘devolução a conferir' não apaga a vergonha da aprovação de um aumento de salário neste momento em que não se sabe quantos caixões terão despedidas à distância, e tantos serão os empregos e CNPJs cancelados.

Como dizia Millôr, o parapeito não muda de nome quanto alguém senta nele.

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