O que realmente sentia, ela escondia. Lá no fundo, em seu âmago, aquilo era amor. Como se deve ter por um irmão, um amigo, um companheiro. Caminhou três quilômetros pela praia. O farol já se descortinava ao longe, com aquela torre comprida e visível para qualquer barco.
Suando, parou para olhar o mar, que neste dia estava azul. A espuma branca, num vai e vem constante, encobrira seus pés – Brancos pés daquela mulher de casta europeia. Ficou ali alguns minutos porque o toque da água salgada lhe dava uma sensação deliciosa. Pensou nos bichos que moram no mar e temeu a aparição de uma água-viva, dessas que queimam a pele.
Continuou sua caminhada. Passo a passo ia descobrindo pequenas conchas, que nesta época estão bem miudinhas. A apenas alguns metros do farol, parou para ver um casal de pássaros brancos que buscava alimento junto das ondas
Suas pernas eram frágeis. Minúsculas. E enfrentavam ondas enormes que acompanhavam a subida da maré. Quase meio-dia. Não era uma hora recomendável para uma caminhada, mas ainda assim, ela caminhava.
Já cansada, alcançou o farol. O local não estava limpo. Havia bastante lixo no entorno. Lamentou. A ação do homem, espalhando detritos por todo lado, deixa tudo mais feio. Paciência. Um dia todos vão lamentar tanto desleixo para com a natureza.
Aos seus olhos, o belo chegara. Era ele. O objeto de seu amor. Esperava-a para um beijo. Um beijo de saudade, de amor. Arredio. Transparente.
Próximo ao mar, tendo por testemunha aquele farol construído junto ao vento, para mostrar o caminho à noite. Sua luz era forte como o que sentia naquele momento. Envoltos numa energia cósmica, se abraçaram. Não fizeram juras porque seria muito comprometedor.
Apenas se amaram.