O quiosque praiano fervilhava de gente. Gente de toda espécie… nativos e visitantes. O sol, do alto, emanava energias em luz. Todos estavam satisfeitos com o clima daquele sábado.
Gurias branquinhas, recém-chegadas de Porto Alegre e Caxias do Sul, sentadas em cadeirinhas coloridas, se deliciavam com o calor daquele dia. O som de Armandinho e de Bob Marley vinha da caixa de som instalada no local.
Guris paqueradores olhavam as pernas das gurias. Tão alvas, tão necessitadas de um bronzeado. O dia marcava no calendário um segundo de primavera, a estação das flores, dos ventos e dos polens voando em narizes aprisionados em rinites variadas.
Tudo voava instantaneamente. O guarda-sol das gurias também.
Os jovens, em grupos, subdividiam o local. Tios de um lado. Juventude de outro. Os assuntos também eram diferentes. Os mais velhos falavam da crise econômica. Dos governos que oprimem e de suas aposentadorias.
As gurias falavam dos namorados, dos maridos e das companhias masculinas, segundo elas, hoje tão conturbadas. Numa mesa de cantinho, e por isto mesmo, duas gurias lindas entrelaçaram suas mãos. Era o novo casal. Se amavam. Estavam na praia. Talvez, desencantadas com os relacionamentos heteros, ou distanciadas de problemas de gênero.
Seja lá qual o motivo, pareciam felizes.
Tinham brilho no olhar.
Na mesa dos apreciadores de álcool figuravam quatro senhoras. Gentilmente pediram ao garçom uma caipirinha de cachaça. O garçom era daquele tipo praiano. Cabelo comprido, estilo samurai, bronzeado e com aquele bonezinho que identificava o estabelecimento. Entre elas, segredaram algo não inteligível quando ele se aproximou. Realmente, era bonito. E simpático. Elas vibraram. Ele correu para atendê-las em meio a correria dos pedidos de aguardentes.
Papo pra lá, papo pra cá, sol em riste, aos pouquinhos elas se alegravam. Olhavam as ondas do mar, que batiam quase em seus pés. E aquele garçom sarado que chamava a atenção. Tudo era alegria. Esqueceram até os males da vida que atualmente tem causado preocupação como a pandemia e a falta de dinheiro.
Nisto, um bando de abelhas sobrevoou os copos, já bebidos pela metade. Sete abelhas incomodavam um pouquinho aquela mesa setentona. Duas abelhas atrevidas ousaram descer ao copo de uma delas, como que saboreando a cachaça, envolvida em limão e açúcar e que parecia fazer a festa dos pequenos e voadores animaizinhos. Uma das senhoras, em gesto de espantar a mais atrevida das abelhas, concluiu: Eu nem sabia que as abelhas gostavam de cachaça”.
Naquela tarde, as abelhas se embebedaram, e as senhoras também.