Lembro o nome: Cine Rey. Situava-se na Avenida Assis Brasil, na Volta do Guerino – bairro Passo D'Areia. Tinha lá meus seis anos de idade. Era fervorosa frequentadora. Foram divertidas tardes de matinês aos domingos. Meu pai, a bordo de seu carro Nash de fabricação americana, tinha o compromisso de me transportar de casa ao cinema quase todo domingo. Sempre com a costumeira recomendação dada a mim e a meu irmão: ”Pego vocês de volta quando a matinê terminar”.
Por alguns anos, meu programa de domingo era assistir filmes no Cine Rey. Meu pai trabalhava muito. Era construtor e desenhista arquitetônico. Nem sempre tinha tempo para escolher o filme que eu e meu irmão veríamos. Por vezes, tínhamos surpresas na programação. Nem sempre víamos beleza, mas sempre colocou na gente uma verdadeira paixão pelo cinema. Ainda hoje, quando assisto um filme de arte, denso, lembro do meu pai.
Ele não assistia o filme com a gente, mas achava que o cinema era importante para a educação e cultura das pessoas. Alguns domingos, por conta da incerteza do que estava em cartaz, tínhamos surpresas. Certo dia, saí do cinema muito assustada. O filme era de ficção científica, cheio de monstros, formigas gigantes. Outros eram violentos, de faroeste. A maioria era de temas americanos. O comediante Jerry Lewis nos fazia dar grandes risadas. Dos filmes brasileiros que assisti, lembro das comédias com a Dercy Gonçalves e dos sertanejos com o Mazzaropi.
O Cine Rey foi inaugurado em 26 de junho de 1954. Nesta sala, os dois lados da tela eram guarnecidos por imensos murais pintados por um artista espanhol. Pinturas em estilo surrealista representando o cinema e o teatro. Essas obras de arte foram impiedosamente destruídas quando da demolição do prédio. Em fins de Agosto de 1980, o cinema deixou de funcionar.
No seu lugar foi construído a loja Empo, que pertencia à rede Empório de Tecidos.
Minha infância foi influenciada pelo glamour cinematográfico do Cinema Rey, que era, aos meus olhos infantis, uma fábrica de sonhos – o que realmente era. Eu me deliciava com os filmes. Com o baleiro e sua cestinha de guloseimas circulando e vendendo doces para a gurizada.Com o lanterninha iluminando o caminho para encontrar lugar para alguém que havia se atrasado à projeção.
Olhava para cima e me encantava com a luz do projetor levando o filme até a tela. Aquilo para mim, era a própria magia. Delirava quando o filme começava a rodar. E antes, ficava atenta a projeção de um boletim informativo que eu, curiosamente acompanhava, já com olhos de jornalista… Gostava do filme, da ação e, também, do jornal no telão do cinema Rey.