Ele escrevia para uma grande revista nacional. Tinha planos profissionais e uma namorada no exterior. Certa feita combinou com ela uns dias de amor na Paris, das festas e dos romances. Mas o chefe da redação desejava mais dele. Queria adiantado vários textos.
Ele titubeou. Ora pensava na namorada, ora no trabalho. E daí várias madrugadas de insônia, muito cigarro e aquele seu uísque preferido que o fazia mais leve, embora não resolvesse seu problema emocional.
De telefone em punho acertou os últimos detalhes de sua viagem para encontra-la nas terras de Bonaparte. Ela por sua vez, tinha tido um casamento infeliz com um alemão da cidade de Colônia.Gaúcha e esperta, novamente tentou a sorte com o velho jornalista. Agora, como Heminnway, totalmente sem inspiração.
O amor batia à porta. Como num passe de mágica viu-se diante do inesperado. De que valeria seu suor existencial, se não pudesse estar com ela. A preferida. A mulher por quem ele sonhava. Capaz de realizar seus sonhos mais desejados. E como tinha uma fantasia, já se via, entrelaçado à ela. Talvez no Café Le Cap Ferrat às margens do Sena. Talvez em algum quarto sombrio de algum hotel parisiense.
O chefe no Rio de Janeiro insistia no pedido dos textos. E ele já longe insistia em passar noites de amor com aquela gaúcha que lhe assombrava o coração. Ela era alta. Um metro e oitenta. Ele baixinho, mas cheio de sonhos. Não seria a diferença de altura que os afastariam. Se completavam na alma. Ela formada em psicologia e ele, em Jornalismo.
Na casa dela na Europa ele se animou à novos textos. Ela, agora francesa, torsia o nariz, quando falavam no Brasil. Era dessas que rejeitavam o jeito malandro do brasileiro. E rumou para terras estrangeiras para se libertar daquele analfabetismo, daquela esculhambação, típica de um país da América Latina.Na Porto Alegre de sua nascença herdou só o sotaque gaúcho e aquela saudade sem explicação quando falava do Rio Grande do Sul.
O velho jornalista num lance de inspiração e logicamente sem ela, atrapalhou-se e criou um texto. Chamava-se “O nada”. Pois realmente sua mente estava vazia. Talvez entorpecida pelos cigarros e pela bebida alcoolica.
Seu editor em Copacabana o promoveu na Redação. Pela genialidade de um tema confuso e pela reativação da inspiração, agora compartilhada por seu grande amor. Aquela gaúcha que lhe roubava o sono em noites mal dormidas. E que lhe amou como uma gata no cio .Fazendo dele não só um instrumento de prazer. Mas uma fonte de inesgotável de criação literária. (Ana D´Avila)