O impossível estava acontecendo. Desespero planetário. Pessoas chorando, com medo, doentes. Pessoas com fome. O improvável seria a solução imediata. Para hoje, como todos querem, mas ela demorava. Às vezes surgia uma ameaça de resolução. Às vezes tudo voltava ao zero.
Debruçada em teclas de um computador, escutava o rádio, que falava de fatos piores. O que seria pior do que a fome, a doença e a morte? Sem dúvida, era um acerto de contas. Da natureza cobrando, enfim, a humanidade. Todos pagando pecados e devaneios. Suas culpas, seus atrevimentos.
Descalça, caminhei pela praia com desejos sutis. “Meu Deus, que dias terríveis são estes”! Onde buscar a resposta para tanto sofrimento? Ele não havia chegado a mim, mas entendi espiritualmente a questão. E tive pena e medo. De mim e dos outros.
Me reportei a Deus. Tranquilizei-me. Só ele, o Pai, haveria de solucionar tais embates. Sem fé, não se vai a lugar nenhum. Parei. Rezei. Com as ondas salpicando de areia os meus pés, já úmidos e cansados. Com meu cérebro mais sossegado.
Que Reino é este? Que paragens nos aguardam? Fui meditando, filosofando, e entendi a linguagem do mar. Casa primeira. Nascimento da vida no Planeta. Será que teremos que adentrar o mar para obter a resposta?
Acho que sim. Sem este turbilhão de água salgada, é fácil entender. Só compreendi a vida depois que adentrei ao mar. Sem imaginar um resgate. Sem ao menos saber o que esperar. Fúria apocalíptica. Estupidez carnal. Gritos e ais. E uis.
E absolutamente nada que me enriquecesse o âmago. Que me abrandasse. Que me fizesse pensar no estúpido entendimento humano. Mas em meu Interior, entendi. Contudo, a paisagem externa ainda era de dúvidas. Para onde a humanidade realmente, estava caminhando? Para o fim ou para a transformação? Ninguém sabia. Nem eu, nem a filosofia.
O que dava para entender é que somos muitos num todo. Que ninguém é diferente de ninguém. Que estamos todos navegando no mesmo barco. Dentro de nossas concepções. Dentro da vida que nos cerca. Tão irreparável quando há sofrimento. Tão confusa quanto a imensidão do universo. E ao mesmo tempo, tão única em corações compassados. Que não funcionam com eletricidade, mas sim com conexões de amor e fraternidade.