Coluna da Ana D´Avila: o apocalipse do corona

A farmácia estava vazia. Por que? Todos sabiam. Com exceção de Dona Maria que era hipocondríaca.Quando entendeu o que se passava viveu um verdadeiro tormento. Ouviu na televisão que tratava-se de uma pandemia. O mundo estava contaminado, com o "coronavírus". Ela desesperou-se. Foi à farmácia. Era a única na fila. Porque não havia mais senhas. Nem filas.Nem gente. Em frente à atendente, falou: "Quero álcool gel e máscara cirúrgica, por favor". A atendente respondeu: "Não temos mais. Nem álcool gel nem máscaras".

Dona Maria ficou zonza. Cruzou a avenida atrás de outra farmácia. Mas a resposta era a mesma: "estamos em falta".Lembrou a farmácia de manipulação. Encomendou um vidro e tanto de álcool gel.Depois de uma semana, a encomenda estava pronta. Seguiu para casa enlameando mãos e pescoço com a substância. Com ele, ficou mais tranquila. Apesar de não saber exatamente o que o tal vírus faria em seu organismo.Era idosa.

Ela era forte. Criada numa fazenda no Alegrete  quase não tinha medo de nada que se mexesse. Mas o tal vírus era a exceção. Verdadeiro pavor. Ela adorava a vida. Não queria morrer em 2020. E os fandangos do CTG, as pingas e as amizades gaudérias, como ficariam, sem a sua presença. Não se imaginava mortinha. Por um vírus inventado pelos chineses. Num debate no rádio, viu alguém falar que a coisa nasceu de uns morcegos ingeridos na terra dos caras de olhinhos puxados."Eles adoram comer porcaria", concluiu ela.

 Tanta coisa para comer, dizia ela. Precisava comer sopinha de morcegos e espalhar o tal vírus para quem até nem come nada. Depois mais tarde ouviu na rede social um médico de esquerda falando que o tal vírus foi encomendado para destruir o capitalismo. Seria possível um laboratório encubar a merda do vírus para matar todo mundo. Os governos vetavam aglomerações, multidões e estipulavam ordens para que a coisa não se alastrasse. Mas a coisa se alastrou.

No Brasil foi o caos. No meio do Carnaval tinha gente se abraçando,se beijando e fazendo tudo o que fora proibido. Os alertas eram sérios.Mas o País não era. Nos confins de lugarejos pobres, muita gente nem sabia o que estava acontecendo. Nas grandes cidades, teatros e cinemas eram fechados. Encontros com super-lotação também. Foi então que Dona Maria, enlameada de álcool gel saiu à rua gritando: "É o apocalipse. É o apocalipse". Sem muita gente para ouvi-la, continuou gritando. Até cansar e dormir. Sua casa e sua cama a esperavam. E o seu pesadelo era real.

 

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