O rato, o lixo acumulado e o corona: o caos na saúde de Viamão

Roedor desfila pela UBS São Tomé, una das unidadades sem higienização há três semanas

A chegada do covid-19 ao Rio Grande do Sul coincide com um momento de séria dificuldade da saúde pública em Viamão. Apesar de não haver nenhum caso, sequer suspeito, de infecção pelo vírus no município (até o fim da tarde da terça-feira, 17), e da adoção de medidas preventivas desde o início da semana, profissionais do setor alertam para um risco cada vez maior nos próximos dias. A questão é que o auge da pandemia no Brasil pode ocorrer justo quando unidades básicas param, uma após outra, de atender por falta de limpeza.

Reflexo da Operação Capital, que resultou no afastamento do prefeito André Pacheco, de um vereador e de cinco secretários, entre eles o da Saúde, a empresa responsável pela limpeza e higienização das Unidades Básicas de Saúde (UBS) teve seu contrato com a administração municipal cancelado em fevereiro deste ano. O resultado é um efeito cascata que prejudica profissionais das unidades e a população.

Sem a limpeza das salas de atendimento, vacinas deixam de ser aplicadas, curativos não são feitos, e consultas foram canceladas em pelo menos cinco unidades. Sequer o lixo hospitalar (contaminante) está sendo recolhido.

– A gente leva até a rua o que é lixo comum, mas o que é resíduo hospitalar está ensacado dentro da sala de curativo – conta uma servidora que deseja ter a identidade preservada.

São três semanas sem higienização adequada nos postos. De quinta-feira (12) para cá, Além da São Tomé, as UBS Águas Claras, São Lucas, Augusta Meneguini e Orieta estão solicitando que os pacientes remarquem consultas agendadas. Centro, Santa Isabel e Augusta Marina não estão realizando curativos ou aplicando vacinas.

 

 

Visitante indesejado

 

Além de perderem a viagem, os usuários da UBS São Tomé ainda se depararam com uma cena que simboliza a dimensão do problema. Um rato passeava livremente pela recepção da unidade na tarde da terça-feira (17). Outro roedor, já morto, estava no pátio, próximo da porta principal.

– É o símbolo da sujeira, da doença. O retrato da vergonha – diz a autônoma Ana Marta Martins, 28 anos.

 

 

Medo de ficar sem emprego

 

Nas unidades Itapuã e Planalto, as funcionárias terceirizadas seguiam trabalhando, mesmo sem receber salário. Mas o gesto que ajuda a manter a população assistida também reflete o medo. As higienizadoras realizam as atividades por receio de não serem recontratadas pela empresa que assumir a prestação de serviço no futuro.

Nenhuma quis falar com a reportagem do Diário de Viamão.

 

 

A situação das unidades

 

UBS São Tomé, São Lucas, Augusta Meneghini, Orieta e Águas Claras: atendimentos médicos e eletivos suspensos.

Salas de vacinas e curativos fechadas.
 

UBS Centro: sala de vacinas fechada.

 

Augusta Marina: salas de vacinas e curativos fechadas.

Santa Isabel: sala de vacinas fechada.

 

Demais unidades: O Diário de Viamão tentou contato com as principais unidades do município, que não quiseram reportar a situação do atendimento. A administração municipal também não informou sobre o funcionamento até a publicação desta matéria.

 

 

Correndo contra o tempo

 

A administração de Viamão já abriu licitação para selecionar uma nova empresa prestadora de serviços. No entanto, mesmo que não haja nenhum impedimento legal e o processo corra no menor tempo possível, a previsão é que a regularização dos serviços ocorra apenas em abril. Dessa forma, os problemas para a população podem se agravar. Neste cenário, o coronavírus é uma ameaça ainda mais preocupante.

– Sem unidades de saúde, hospital e UPA ficariam sobrecarregados. Se o covid-19, provocasse uma corrida por atendimento, a saúde de qualquer cidade entraria em colapso pela falta de leitos e de outros recursos – aponta o médico sanitarista Ezequiel Dias.

 

 

O que diz a Prefeitura

Até a publicação desta matéria, a assessoria de comunicação do município não retornou o pedido de entrevista feito pelo Diário de Viamão. O espaço fica disponível para que sejam divulgadas à comunidade as medidas que serão tomadas para evitar a paralisação do atendimento nas UBS, bem como o fluxo de acolhimento dos pacientes que eventualmente apresentarem sintomas do coronavírus.

 

Mais problemas

Na semana passada, a UBS Augusta Meneghini enfrentou problemas de atendimento. Falhas estruturais interromperam o abastecimento de energia elétrica e de água, forçando o fechamento das portas na segunda e na terça-feira desta semana. O atendimento já está normalizado. Mas a falta de higienização também ameaça os serviços.

A Saúde não é a única área que enfrenta dificuldades. As escolas da rede municipal também estão impactadas por falta de serviços de limpeza e preparo de merenda. A questão foi abordada pelo colunista do Diário de Viamão, Rafael Martinelli, e também envolve contratação e pagamento de empresas terceirizadas.

 

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