Algumas das pessoas mais inteligentes que conheço decidiram deixar o país e se arriscaram no exterior em busca de uma vida melhor. Alguns sortudos (ou esforçados) conseguiram emprego dentro da sua área de atuação no primeiro mundo. Desses, o Brasil só terá o privilégio da presença em datas festivas para visitas aos familiares. Outros se aventuraram em atividades que jamais exerceriam na terra natal por considerá-las abaixo das suas qualificações, mas que aceitaram por ser a única forma de se manterem por lá.
Eles perceberam que nossas escolhas, bem como nossa energia, devem ser direcionadas para nosso benefício, por isso, durante muitos anos, brasileiros buscando melhores condições vão embora para nunca mais voltar. Contudo, ultimamente, tenho percebido uma nova tendência. Há casos de quem encontrou em outros lugares valorização que já havia desistido de encontrar aqui, porém sentiu falta de outras coisas que tinha como garantido. As vezes, ser valorizado, apenas, não supre a necessidade de realização, muito menos mata a saudade dos entes queridos.
Esta busca por sentir-se bem só satisfaz quando atingimos um nível confortável de saúde física, mental e financeira. O problema é conciliar todas em uma vida. Porque é isso que temos. Apenas uma vida. E nossa energia é limitada. Impossível dividir o profissional do pessoal, separando família, lazer e trabalho como se tivéssemos disposição reservada para cada. Não temos vida separada do emprego e das boas companhias. Nossos amigos e hobbies e profissão são nossa vida. Achamos que podemos viver mais de uma, mas só estamos vivendo essa.
Quando alguém experimenta a valorização da economia avançada de países desenvolvidos, mas sente falta do afeto ou dos momentos prazerosos desfrutados no Brasil, percebe que nada é garantido e aprende que precisamos ser gratos pelo que temos, afinal a gratidão nada mais é do que saber não ter as coisas e as pessoas como garantidas. Esta descoberta repatriou talentos com capacidade de transformar nosso país de forma nunca antes vista. Pessoas com a crença no Brasil dando certo – não porque acreditam em contos de fadas, mas – porque encaram esta como a única opção para conciliarem tudo que querem alcançar no curto espaço de uma vida.
Decididos a não se deixar explorar, resolveram empreender. Aprenderam rápido que basta atender os hábitos de consumo das pessoas, sem nunca esquecer que se existe um mercado consumidor, as chances são de já existir quem o atenda. Outros, fugindo da competitividade e conscientes de que para terem uma carreira próspera precisavam encontrar uma atividade de seu interesse, optaram por desenvolver algo novo. Em ambos os casos, a experiência, a crença e a vontade deixaram claro que daria certo porque tinha que dar, afinal é o jeito mais prático, fica mais bonito e dá mais resultado. É assim porque tem que ser.
Esta é a nova tendência. Pessoas corajosas que acreditam não precisar mais optar entre ter tempo e não ter dinheiro ou ter dinheiro e não ter tempo. Conseguiram transformar uma vida de “não quero, mas tenho que” em uma onde seu investimento de energia e conhecimento reflete em benefício para sua vida pessoal e profissional. Afinal, se sua carreira, seus entes queridos, sua realização e seu conforto não forem sua vida, serão a de outra pessoa.