Coluna do Gustavo | Queremos querer

Caso o melhor professor do mundo, amante da disciplina que leciona, precisasse ensinar sobre sua paixão para algum desinteressado, por maior que seja a necessidade e por mais que suas vidas pudessem estar em risco e dependessem disso, jamais alcançariam o mesmo resultado que seria obtido se o aluno gostasse da matéria. O desempenho somente superará a média quando, após muito esforço, nos sentirmos gratificados o suficiente com a conquista a ponto disso servir de incentivo para buscarmos algo mais.

É neste ponto, neste passo extra, que reside o encontro com nossa vocação, com nossas paixões, porque, afinal, é impossível ensinar uma paixão. Paixão não se ensina, se encontra. E quando for encontrada, deve ser explorada, só assim, além de encontrá-la, encontraremos nós mesmos. Não há sensação melhor. Ao sabermos quem somos, saberemos o que queremos. E somente desfruta de bons relacionamentos e desenvolve uma carreira próspera quem sabe o que quer.

Em contrapartida, conseguir o que não se quer apenas vai nos afastar de nós mesmos. Apesar de uma boa performance ser sinônimo de sentir-se bem, e todos gostamos de nos sentir bem, despenhar uma atividade na qual não temos interesse, não costuma ser muito gratificante. Nossa busca por significado pode nos conduzir a becos sem saída onde os sentimentos servem apenas para compensar algum desconforto. Muitas vezes, consumimos estórias assistindo filmes, lendo livros ou ouvimos músicas com letras inspiradas em seguir nossos sonhos, capazes de despertar esta sensação.

O problema é quando, após sermos inundados com mensagens engajadoras, nos fazendo evoluir e permitindo a volta para casa com um elixir capaz de mudar nossa percepção de mundo, saímos do cinema ou do show e seguimos na mesma, nos sentindo especiais somente o suficiente para as energias serem revigoradas para encararmos mais uma semana na rotina. Um relacionamento aceitável, um trabalho ruim mas bem remunerado, ou torcer para seu time e ele ganhar, também podem nos proporcionar isso.

Imperadores, reis, ditadores, democracias, sistemas econômicos, veículos de comunicação, empresas, todos sobrevivem manipulando e explorando como enfrentamos este dilema. Até porque não há, nunca houve e nunca haverá qualquer outro tipo de dilema. O único que existe é o humano. O dilema da subjetividade humana. Aquele que difere entre ficarmos acordados à noite por causa dos problemas ou por causa da empolgação com alguma ideia. Nele encontramos a diferença entre levantar da cama na madrugada animados porque não podíamos esperar até de manhã ou atrasados sem motivação por termos dormido mal.

Percorremos uma jornada no curso da vida e nela sempre teremos, à cada escolha, a chance de nos sentirmos especiais porque desfrutamos desta sensação ao consumirmos algo ou ao fazermos algo que despertou este sentimento. Talvez precisemos da vida inteira para descobrir e aprender esta lição, inalcançável apenas lendo, assistindo ou ouvindo, afinal, é impossível transmitir o conhecimento de uma vida em uma aula. Também não adianta recebermos a melhor das orientações se não estivermos interessados. Cabe a nós decidirmos qual nosso interesse. Cabe a nós querer encontrá-lo. O primeiro passo é querer.

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