Como a CIA montou uma Maidan no Brasil

“A razão dessa operação, com visíveis sinais de planejamento apressado, é que o Brasil irá se tornar ‘parte importante do G-7 do Oriente’”. Recomendamos o artigo do jornalista Pepe Escobar, publicada no Asia Times e traduzido por Patricia Zimbres para o 247


Uma fonte do mais alto nível do Deep State dos Estados Unidos, agora exercendo um papel de consultoria em Nova York, confirmou que a remixagem caótica da Maidan montada em Brasília neste último domingo foi uma operação da CIA, e ligada às recentes tentativas de revolução colorida no Irã.

Supostos apoiadores do ex-presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro invadiram o Congresso, a Suprema Corte e o palácio presidencial, conseguindo passar por – frágeis – barreiras de segurança, subindo em telhados, quebrando vidraças, destruindo propriedade pública, inclusive obras de arte de alto valor, e pedindo um golpe militar como parte de um esquema de mudança de regime dirigido contra o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 

Segundo essa fonte, a razão dessa operação agora, com visíveis sinais de planejamento apressado, é que o Brasil irá se tornar “parte importante do G-7 do Oriente”.

O que sugere que os planejadores da CIA eram leitores ávidos do experiente estrategista do Credit Suisse,  anteriormente do FED de Nova York. Em um dos dois inovadores relatórios de fins de 2022, intitulado War and Commodity Encumbrance (Guerra e Oneração de Commodities), publicado em 27 de dezembro, Pozsar afirma que “a ordem do mundo multipolar vem sendo construída não pelos chefes de estado do G-7, mas pelo “G-7 do Oriente”, (os chefes de estado dos BRICS), que na verdade é um G-5, mas que eu, em razão da BRICSpansão, tomei a liberdade de arredondar”. 

A fonte traçou um paralelo entre a Maidan da CIA no Brasil e uma série de manifestações de rua ocorridas no Irã e instrumentalizadas pela agência como parte de um movimento de nova revolução colorida: “Essas operações da CIA no Brasil e no Irã pautam-se na operação na Venezuela, em 2002, que foi altamente bem-sucedida ao início, quando os amotinados conseguiram capturar Hugo Chávez”. 


Entra em cena o “G-7 do Oriente”


Os neocons-straussianos do primeiro escalão da CIA, independentemente de sua filiação política, estão furiosos com o “G-7 do Oriente” – significando a configuração do BRICS+ em um futuro próximo – que vem se afastando rapidamente da órbita do dólar. Nos próximos dois anos, o BRICS+ talvez venha a incluir Argélia, Argentina, Irã, Indonésia, Arábia Saudita, Turquia e UEA, entre outros atores importantes do Sul Global.

O tóxico straussiano John Bolton – que acabou de tornar público seu sonho molhado de concorrer à presidência da república – agora exige a expulsão da Turquia da OTAN, quando o Sul Global se realinha com a rapidez de um raio. O Chanceler russo Sergey Lavrov e seu colega chinês Qin Gang anunciaram há pouco a fusão da Iniciativa Cinturão e Rota (ICR) conduzida pela China e da União Econômica Eurasiana (UEEA) conduzida pela Rússia. O que significa que o maior projeto de comércio/conectividade/desenvolvimento do século XXI – as Novas Rotas da Seda chinesas – é agora ainda mais complexo e continua em expansão.

Essa medida prepara o terreno para a adoção, já sendo projetada em vários níveis, de uma nova moeda internacional de comércio visando a suplantar e, em seguida, substituir o dólar americano. Além de um debate interno entre os BRICS, um dos principais vetores é a equipe de discussões montada pela UEEA e a China. Após concluídas, essas deliberações serão apresentadas aos países parceiros da ICR-UEEA e, é claro, também do BRICS+ expandido. 

Lula no comando do governo brasileiro para o que será seu terceiro mandato presidencial representará um tremendo estímulo aos BRICS+ – como ocorreu na década de 2000, quando, lado a lado a Putin e Hu Jintao, ele foi um dos principais formuladores de um maior papel para os BRICS, incluindo a possibilidade de comércio em suas próprias moedas. 

Os BRICS, o novo “G-7 do Oriente”, tal como definido por  Pozsar, é mais do que anátema, tanto para os neocons-straussianos quanto para os conservadores neoliberais. Os Estados Unidos vêm, lenta mas firmemente, sendo expelidos da Eurásia por ações conjuntas da parceria estratégica Rússia-China. 

A Ucrânia é um buraco negro – onde a OTAN enfrenta uma humilhação que fará o Afeganistão parecer Alice no País das Maravilhas. Uma União Europeia fraca, sendo forçada pelos americanos a se desindustrializar e comprar GNL a custos absurdos, não possui recursos essenciais para serem pilhados pelo Império. 

Em termos geoeconômicos, sobra o que os Estados Unidos chamam de “Hemisfério Ocidental”, em especial a Venezuela imensamente rica em petróleo. E, em termos geopolíticos, o principal ator regional é o Brasil. O roteiro neocon-straussiano é usar de todos os trunfos para evitar a expansão do comércio e da influência política da China e da Rússia na América Latina, “nosso quintal”. Em tempos em que o neoliberalismo é tão “inclusivo” que os sionistas usam suásticas, a doutrina Monroe turbinada está de volta. 


Trata-se da “estratégia da tensão”


Pistas levando à Maidan brasileira podem ser obtidas, por exemplo, no  Comando Cibernético do Exército dos Estados Unidos, em Fort Gordon, onde não é segredo que a CIA enviou centenas de agentes para todo o Brasil antes das últimas eleições presidenciais – fiéis ao manual de instruções da “estratégia de tensão”.

As conversas da CIA vêm sendo interceptadas por Fort Gordon desde meados de 2022. O tema principal, então, foi a imposição de uma narrativa hegemônica, segundo a qual Lula só poderia ganhar trapaceando. 

Um objetivo importante da operação da CIA foi desacreditar por todos os meios o processo eleitoral brasileiro, abrindo caminho para uma narrativa pronta que agora vem se desenrolando: um Bolsonaro derrotado fugindo do Brasil e buscando refúgio no Mar-a-Lago de Trump. Bolsonaro, aconselhado por Steve Bannon, de fato fugiu do Brasil faltando à posse de Lula, mas como ele está apavorado, ele pode ter que enfrentar a cadeia mais cedo do que se pensa. E ele está em Orlando, não em Mar-a-Lago.

A cereja do bolo seco de Maidan foi o que aconteceu no último domingo: a criação de um 8 de janeiro em Brasília, imitando o 6 de janeiro de 2021 de Washington e, é claro, plantando na cabeça das pessoas o elo  Bolsonaro-Trump.

A natureza amadora do 8 de janeiro de Brasília sugere que os planejadores da CIA se perderam em sua própria trama. A farsa inteira teve que ser antecipada devido ao relatório de Pozsar, lido por todos os que têm alguma importância no eixo Nova York-Beltway.

O que fica claro é que, para algumas facções do Deep State, livrar-se de Trump, custe o que custar, é ainda mais importante do que enfraquecer o papel do Brasil nos BRICS+. E para tornar o nevoeiro ainda mais denso, a União Europeia politicamente correta, por meio do insignificante Charles Michel, e também o Departamento de Estado dos Estados Unidos, por meio do conservador neoliberal, o Pequeno Tony Blinken, pareciam estar torcendo por uma repetição do “ataque ao Capitólio dos Estados Unidos”. 

No que se refere aos fatores internos da Maidan brasileira, tomando emprestado de Garcia Márquez, absolutamente tudo soa como uma Crônica de um Golpe Anunciado. É impossível que o aparato de segurança que cerca Lula não tenha previsto que isso aconteceria – tendo em vista, principalmente, o tsunami de sinais anteriormente veiculados nas redes sociais.

Deve, portanto, ter havido um esforço articulado de agir de forma branda – sem qualquer tipo de “big sticks” preventivos – ao mesmo tempo em que se recitava o blá-blá-blá neoliberal de sempre. Afinal, o gabinete de Lula é uma bagunça, onde ministros se entrechocam, alguns deles apoiadores de Bolsonaro há apenas poucos meses. 

Lula chama de “governo de união nacional”  o que mais parece uma colcha de retalhos mal-alinhavada. 

O analista brasileiro Quantum Bird, um acadêmico da Física mundialmente respeitado e agora de volta à pátria após uma longa temporada nas terras da OTAN, observa que “há atores demais em ação, e um excesso de interesses antagônicos. Entre os ministros de Lula há bolsonaristas, rentistas neoliberais, convertidos ao intervencionismo climático, praticantes das políticas identitárias e uma vasta fauna de políticos neófitos e de alpinistas sociais, todos bem alinhados com os interesses imperiais de Washington”. 


“Militantes” atiçados pela CIA rondando à solta 


Um cenário plausível é que setores poderosos das Forças Armadas brasileiras – a serviços dos suspeitos de sempre, os think-tanks neocon- straussianos aliados ao capital financeiro global – não conseguiram dar um golpe de verdade em razão da maciça rejeição popular, e tiveram que se contentar com, na melhor das hipóteses, uma farsa “branda”. O que evidenciaria que essa facção militar, altamente corrupta e ufanista, está, na verdade, isolada da sociedade brasileira. 

O que é extremamente preocupante, como observa Quantum Bird, é que a unanimidade na condenação do 8 de janeiro, vinda de todos os quadrantes, ao mesmo tempo em que ninguém se responsabilizava pelo ocorrido, “mostra que Lula navega praticamente sozinho em um mar raso e infestado de corais afiados e de tubarões famintos”. E a posição de Lula, acrescenta ele, “decretando sozinho uma intervenção federal, sem figuras fortes de seu próprio governo nem autoridades relevantes, mostra uma reação improvisada, desorganizada e amadora”. E tudo isso depois de os militantes – ou os “militantes” atiçados pela CIA – estarem há dias nas mídias sociais organizando abertamente os “protestos”. 

O mesmo manual de instruções da CIA continua sendo aplicado. E continuamos a nos estarrecer ao ver como é fácil subverter o Brasil – um dos líderes naturais do Sul Global. Tentativas velha escola de golpes e de scripts de mudanças de regime/revoluções coloridas continuarão a acontecer – lembrem-se do Cazaquistão, em inícios de 2021 e do Irã, há apenas poucas semanas. 

Por mais que a facção ufanista dos militares brasileiros acredite que controla o país, se as massas lulistas tomarem as ruas com força total para mostrar seu total repúdio à farsa de 8 de janeiro, sua impotência ficará evidente. E como se trata de uma operação da CIA, os manipuladores ordenarão seus vassalos militares a se comportarem como avestruzes. 

O futuro, infelizmente, é sombrio. Os suspeitos de sempre não permitirão que o membro dos BRICS com o maior potencial econômico depois da China volte a assumir seu papel com força total – e, além de tudo, em sincronia com a parceria estratégica Rússia-China. Os neocons straussianos e os conservadores neoliberais, chacais e hienas geopolíticos de papel passado, se enfurecerão ainda mais, à medida que o “G-7 do Oriente”, o Brasil inclusive, continuar a agir para pôr fim à suserania do dólar americano enquanto o controle imperial do mundo se desfaz. 

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