Todos os anos depois que o vestibular mais disputado do sul do Brasil libera seu listão, os outdoors da cidade são preenchidos com anúncios dos mais variados cursinhos exibindo seus calouros aprovados na UFRGS. A história que o Diário conta hoje é sobre um pré-vestibular que não tem dinheiro para pagar um outdoor, seus professores ou materiais didáticos caros. E não é por ineficiência administrativa ou falta de dinheiro: o Pré-vestibular Zumbi dos Palmares foi criado para ser exatamente assim: popular. E tem dado certo. No último listão da UFRGS o cursinho, que ministra suas aulas no Ana Jobim, aprovou cinco alunos na federal.
Criado em 1995 por João Pedro Farias Rodrigues e Enilza Garcia no bairro Cruzeiro do Sul, o cursinho foi o pioneiro na educação popular da região metropolitana, abrindo seu primeiro núcleo na Cruzeiro do Sul, em Porto Alegre. Em 97 foi inaugurado o núcleo Viamão, única unidade do cursinho que segue aberta até hoje.
– Nossos professores são voluntários, graduados em diversas áreas e muitos alunos da própria UFRGS que se disponibilizam a ensinar o que aprenderam com seus professores dentro da Universidade. É este espírito que mantém o Zumbi vivo – afirma Rogério Sampaio, coordenador do núcleo Viamão.
Enquanto os cursinhos tradicionais cobram até R$ 6 mil por ano, o Zumbi pede R$ 60,00 mensais de cada aluno. É esta taxinha que Sampaio usa para comprar lâmpadas, giz para o quadro negro e ajudar os professores voluntários com a passagem de ônibus.
– Até ano passado cobrávamos R$ 50,00 por aluno, mas tudo está subindo muito rápido. Daqui a pouco R$ 10,00 não vão pagar duas passagens municipais. Cobramos o mínimo para que os alunos possam arcar – diz o técnico em eletroeletrônica e Gestor Público por formação.
O Zumbi começou 2017 com 43 alunos e encerrou com pouco menos de dez. Muitos jovens deixam de frequentar as aulas depois das provas do ENEM. Se o cursinho tivesse recursos para contratar um publicitário poderia exibir com orgulho em seus anúncios que mais de 10% de seus alunos passaram na federal. Isso para ser bonzinho e não usar o dado maior: os que realmente frequentaram as aulas até o final.
As inscrições para 2018 já estão abertas. Os interessados devem ir até a Escola Aberta Ana Jobim (atrás da UPA, pda 36) do dia 26/02 à 02/03 sempre das 19h às 21h munidos de comprovante de residência, foto 3×4, documento com foto e histórico escolar do ensino médio para quem já concluiu ou comprovante de matrícula no terceiro ano do médio. Apenas alunos oriundos de escola pública podem se inscrever. A taxa de inscrição é de R$ 10,00.
Quer mais informações? Whats 51 9.8247.0200 com Rogério.
Abaixo o Diário orgulhosamente apresenta os cinco aprovados pelo Zumbi dos Palmares no último vestibular da UFRGS.
O curso com nome esquisito forma profissionais para trabalhar no arquivamento de obras, documentos e livros nas bibliotecas. Foi lendo sobre uma portaria do Governo Federal que estabelece a obrigatoriedade deste profissional as bibliotecas país a fora que Eduardo Pinheiro, 21 anos, decidiu apostar nessa promissora carreira. Foi através de uma amiga que o rapaz descobriu o Zumbi. O único do grupo de aprovados que trabalha enquanto se preparava para a prova o auxiliar de metalúrgica fez dois anos de cursinho até ser aprovado, dividindo o tempo entre as aulas, estudos, trabalho, o deslocamento de Alvorada até Viamão para estudar e a ajuda como monitor do Zumbi.
– O apoio dos professores foi essencial para a nossa conquista. Eles nos mostraram que não importa o tamanho dos nossos sonhos, com persistência a gente chega lá – disse feliz.
O terror de muitos vestibulandos é a profissão escolhida pelo morador da Santa Marta (pda 47) para exercer na vida. Hoje com 18 anos Ismael conta que aos 15 não tinha internet e que a única coisa para fazer nos tempos vagos era assistir a documentários sobre física na TV. A paixão pelos números e fórmulas cresceu quando o jovem foi convidado a ser bolsista no laboratório de física do Aplicação, escola onde estudava. Desde então não teve mais dúvidas sobre qual profissão escolher.
– O Zumbi ajudou demais, funcionou como um complemento as aulas da escola e a fixar a matéria melhor – conta o aprovado.
A entrevista com os aprovados no vestibular foi realizada na sexta pré-carnaval, quando uma forte chuva caiu em Porto Alegre e Região Metropolitana. Hugo ficou preso no trânsito e não conseguiu participar e por isso não está na foto de capa desta matéria. Por telefone o morador da 47 e ex-aluno da Escola Setembrina, contou que escolheu o curso por ter afinidade com a área.
– Uma amiga minha me indicou o curso e os estudos em grupo e a qualidade dos professores do Zumbi com certeza nos ajudaram a alcançar nosso objetivo.
– Sempre gostei de natureza e tinha a curiosidade em descobrir como as outras vidas funcionam.
Foi assim que Paula, 18 anos, descreveu sua escolha, que tomou por influência de uma professora da escola onde estudou, o Isabel de Espanha. Moradora da Santa Isabel Paula, assim como Eduardo Pinheiro, fez dois anos de Zumbi e também trabalhou como monitora nas aulas: montar notebook, limpar quadros e auxiliar os professores nos demais afazeres.
O Eduardo tem 17 anos, estuda no Colégio Aplicação da UFRGS e descobriu o Zumbi por indicação do Ismael, que é seu colega de aula. Morador do Sítio São José o garoto acredita que escolheu História pela sua paixão, desde pequeno, em ler e conhecer novas histórias.
– A linguagem do cursinho é bem melhor que a da escola e o horário, noturno, é bem mais agradável para estudar – conta.
No meio da entrevista o coordenador do Zumbi, Rogério, interrompe o menino e conta orgulhoso:
– O Eduardo já se ofereceu para ser voluntário no cursinho!