Debate na Globo: domingo a escolha é entre o mundo do Padre Kelmon e outro mundo qualquer

O show de horrores que assistimos na Globo (que parece ter aderido ao caça-cliques ao dar quase todos direitos de resposta aos presidenciáveis, para provocar engajamento nas redes sociais) mostrou que os debates entre candidatos, em qualquer tv, não restam mais do que um palco que apenas traveste vinhetas hans donner em denominações modernas de cortesmemes, tik tok e lacradas. Ninguém quer saber sobre os problemas do Brasil. Ou onde se pisa, no Breno Garcia, na Anair ou na Mathias.

Não só por culpa dos candidatos, mas de nós mesmos que assistimos.

Confesso o xixi que fiz, ou o cigarro que fumei durante o debate, foi no momento em que assuntos importantes eram debatidos com seriedade.

Fato é que respeitar a própria biografia é coisa rara nestes tempos de Grande Tribunal das Redes Sociais, onde o escândalo do dia é esquecido pelo barraco da noite.

Assim, como que em tuitadas fugazes de madrugada, analiso o debate ‘decisivo’, que parecia só terminaria na hora de digitarmos nosso confirma na urna.

Sigo, presidenciável a presidenciável.


Bolsonaro

Quatro anos depois ainda não entendendo o tamanho de ser Presidente do Brasil, Bolsonaro, desesperado, parecia o Hitler de “A Queda”, filme de Bruno Ganz.

Desgrenhado, entre calmarias tipo Rivotril (que atrapalharam os momentos em que poderia apresentar feitos de seu governo; e todos os tem) e delírios, desenterrou até Celso Daniel, o ‘Adélio do PT’.

Se alguém tinha dúvida do “tal Datafolha”, entendeu que o presidente – que, combinemos, não consegue tratar mulheres decentemente – sabe que Lula pode ganhar em primeiro turno.

Lula

Lula jogou em casa (como antes do debate Bolsonaro espertamente espalhou no zap). Mas não porque era a Globo, que comparo seria como uma Arena do Grêmio, um estádio alugado, e sim por ter, como bem disse Soraia, o melhor cabo eleitoral: Bolsonaro.

Lula sabe que é o ungido, por esquerda, centro e direita, do miserável ao Faria Limer, como único que pode vencer um presidente que envergonha e rebaixa econômica e moralmente o país; e que para seguir solto em seu mundo de cercadinho, faz de tudo, desde ameaçar instituições até a maior compra de votos “da história desse país”, não só no Congresso, mas no período eleitoral, distribuindo 60 bilhões em auxílio – seja a necessitados ou não.

Lula sabe que já é o presidente.

Assim como sei eu (e tantos que votarão nele) que cobrarei desde o primeiro dia e, acredito, logo serei identificado como ‘eles’, pelos que no PT não aprendem e ainda agem como um espelho da seita bolsonarista.

Ciro

Ciro busca protagonismo, mas reputo encontra não mais que pena, e, por vezes, uma vergonha alheia, como se sambasse sobre o túmulo do Tio Briza.

Aposta sua intocável biografia e inteligência confiando que, ali na frente, herdará o espólio do bolsonarismo, enquanto perde, entrega, os eleitores – ou melhor: os fãs – que tem, ao não comungar com um hoje necessário Zeitgeist, o espírito do tempo.

Digitei-apaguei-digitei-apaguei, mas, desculpa Carlos Zanettini: Ciro está virando… o louco de palestra.

Soraia

Soraia é uma tik-toker sem dancinha. Uma Juma de marqueteiro, que, com pausas dramáticas na hora certa, garante o riso da geral nos pós-debates.

As redes sociais são sempre cutucadas por ela com vara curta.

É a presidenciável, também, um retrato do Brasil que apareceu no 2013 que levou ao golpeachment contra Dilma dois anos depois: a menina que gostou de ir às ruas, se pintar de verde e amarelo e gritar contra a corrupção do PT, colou ‘Bolsonaro’ ao sobrenome para concorrer, foi eleita senadora e caiu na real; foi traída pela seita.

Ela não é Lula, mas – não pelos mais nobres motivos – é ainda menos Bolsonaro.

O “padre de festa junina” é Dos Grandes Lances dos Piores Momentos da eleição dem 2022; sacada de Soraia. Afinal, que passe vergonha a Globo!, que se prestou a levar um farsante ao debate que o Ali Kamel, exista ou não, acredita é assistido até na taba do índio, como em “Brasil”, do Cazuza.

Felipe

Felipe D’Avila mostrou que é um nenê-vovô, muito educado em seus sorrisos de botox, mas de um partido que lembra a “Novilíngua” de 1984, de George Orwell: é o Novo, mas é velho.

A ‘privatização’ como dogma, como bíblia, o que repetidamente defende, todos liberais modernos do mundo já tratam como uma pauta secundária.

É só um rico brasileiro com pinta de coach, que, Guga Chacra ‘denunciou’, deve ser uma ‘vergonha’ aos ‘liberais de posto Ipiranga’, já que foi estudar na França do socialista Miterrand e não nos EUA.

Tebet

Simone Tebet é minha estrela do debate e, ‘Printe & Arquive na Nuvem’: é candidata a presidenciável global em 2026. Articulada e ‘centro’, sem ser ‘centrão’.

Demonstrou a covardia de Bolsonaro ao questionar o porquê do candidato perguntar a ela, e não a Lula, sobre o caso Celso Daniel; e recebeu como confirmação o medo do presidente de mulheres como ela ao não ter sido chamada por ele para responder em nenhum dos momentos onde ela “sobrou” – expressão do próprio.

Não concordo com o momento profetiza, quando a presidenciável disse que “ganhe Bolsonaro ou Lula, nenhum vai deixar o outro governar”.

Sabe bem Tebet que a derrota de Bolsonaro fará, por exemplo, Edir Macedo abraçar Lula no palco do Templo de Salomão; o ‘Véio da Havan’ se recolher a láureas da Associação Comercial e do Rotary de Brusque e militares a respeitar mais a Constituição – como tanto da ativa alertam a alguns cabelos pintados da reserva, os golpistas de pantufa.

Padre Kelmon

Ao fim, chego ao Padre Kelvin; infelizmente não o Padre Karras, que todos amamos de “O Exorcista”.

Das conspirações do Universo, essa personagem mais abjeta, travestida de religioso, leva-me à conclusão mais intimista deste artigo.

É que me deu vergonha do Padre Vieira, um dos maiores intelectuais da língua portuguesa. Me doeu pelo padre Júlio Lancellotti e a dedicação aos miseráveis. Desmintam-me os próprios, mas senti por sacerdotes gravataienses que muitos identificam com ‘de direita’, como o padre Lucas, afilhado de Marco Alba, ou o padre Batista, da Neópolis.

Reputo nas urnas, domingo, a escolha é entre o mundo do Padre Kelmon e outro mundo, seja qual for.

Se você não assistiu, o debate está no G1 da Globo.

Participe de nossos canais e assine nossa NewsLetter

Compartilhe esta notícia:

Facebook
WhatsApp
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Conteúdo relacionado

Receba nossa News

Publicidade

Facebook