Valdir Bonatto é defensor da cogestão das bandeiras do distanciamento controlado, por entender que a autonomia é necessária para tomar decisões mais conectadas com a realidade local. Contudo, merece elogios pela postura estadista com a qual aparenta estar enfrentando o pior momento da pandemia de coronavírus no Rio Grande do Sul.
Por hora, o prefeito tucano abrirá mão de suas convicções em nome do melhor para a população de Viamão. Entre a cruz e a espada, sabe o que o certo a fazer é acatar a bandeira preta determinada pelo governo do Estado.
E por ter também consciência da pressão que sofrerá do empresariado – dos donos de Marea até os proprietários dos modelos mais luxuosos – Bonatto aguarda o "momento adequado", nas palavras vindas de dentro do Gabinete do chefe do Executivo, para tornar público o choque de realidade ignorado pelos signatários do capital e pelas vilas: o comércio, as indústrias – do micro ao negócio bilionário – fecharão mais uma vez a partir de amanhã (23).
Ninguém é santo na explosão do contágio. E todos pagarão a conta.
O tal clima para anunciar o novo remédio amargo dessa pandemia passa pelas decisões desta segunda-feira (22). Está previsto para às 18h o anúncio do governador Eduardo Leite se aceitará ou não a cogestão das prefeituras na "cor da morte". Se ele der o sim, quem quiser poderá adotar as regras da bandeira vermelha – e dar mais um gás na transmissão da COVID-19. Nesse cenário, o poderio econômico virá à carga com tudo pra cima da administração pública de Viamão.
É um quebra-cabeças que depende de diversos fatores externos:
1. Bonatto começou a correr ainda no sábado para entender a realidade de Viamão. Conferiu as condições do sistema de saúde local, tem conversado sobre o indigesto decreto que terá que assinar em breve;
2. Ainda no sábado, a internação do ex-vereador e presidente de honra do MDB local, Sarico Moura – que continua em estado grave por causa da COVID-19 – tornou-se pública e pesou na conta;
3. Hoje, a Prefeitura admitiu que o vice-prefeito Nilton Magalhães testou positivo para o coronavírus. Está em isolamento e apresenta apenas sintomas leves, mas é o segundo membro da Administração tucana a adoecer – o primeiro foi o secretário de Planeamento Nilson Vargas, que faleceu;
Nilton está em isolamento e acompanhado pelos médicos
4. Também hoje, o Comitê Científico de Apoio ao Enfrentamento à Pandemia do Governo do Estado recomendou "fortemente" que a cogestão das bandeiras seja suspenso;
5. Nesta segunda-feira, a Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) se posicionou – acreditem – pela paralisação de todas as atividades que não são consideradas essenciais;
6. O Ministério Público do RS tem reunião nesta tarde para decidir se intervirá na crise local. Especula-se que determinará de imediato o fechamento da Prefeitura e outros serviços públicos locais.
Pela série de motivos listados, Valdir Bonatto está coberto de razão em acatar a bandeira preta. Sabe que se nada for feito agora, o plano de retomar as aulas no próximo dia 8 vai ladeira abaixo junto com as águas de março, mês em que o primeiro caso registrado do novo coronavírus completará um ano.
Será a canetada mais dura do prefeito nesse início de gestão, porém será a mais acertada e efetiva. É também a mais corajosa, porque o Executivo viamonense estará lutando, além dos interesses econômicos de gente poderosa, para se descolar do negacionismo de colegas prefeitos da região. Ontem mesmo, o prefeito de Gravataí Luiz Zaffalon (MDB) divulgou vídeo incluindo Viamão entre as cidades que "querem a cogestão". Quem conhece a rotina do Gabinete de Bonatto diz que não é verdade.
Mas o pior de todos é o também emedebista Sebastião Melo. O gestor de Porto Alegre sempre fez pouco caso da pandemia e quer manter tudo aberto – azar de quem pegar COVID-19. Ele tem a Capital com as UTIs superlotadas de pacientes, muitos vindos das cidades vizinhas, mas não está nem aí e quer manter a bandeira vermelha.
Felizmente, o tucano tenta se descolar da pecha do negacionismo inflado pelos covidiotas cegos pelo bolsonarismo e pelo desejo de lucro. Bonatto já entendeu que ivermectina não funciona, sabe que quanto antes isolar e vacinar a população, mais cedo sairemos dessa.
Só pra fechar:
Viamão:
Prefeito Russinho (MDB) morreu de COVID-19;
Secretário de Bonatto, Nilson Vargas (PL), morreu em decorrência do vírus;
Vice-prefeito Nilton Magalhães (PSDB) está com o coronavírus;
Presidente de Honra do MDB, Sarico Moura, está internado em estado grave com a doença;
Gravataí:
Prefeito Zaffalon (MDB) já teve a doença;
Ex-prefeito Marco Alba (MDB) já foi infectado;
Alvorada:
Prefeito Appolo (MDB) já teve COVID-19;
Cachoeirinha:
Vice-prefeito Maurício Medeiros (MDB) já teve COVID-19.
A verdade é dura. E não depende de desejo ou crença pessoal. A verdade é a verdade, e negar não muda os fatos.