Erika Goelzer | Quem somos?

Quem é você? Se alguém lhe abordar com esta pergunta, qual será sua resposta? Você responderá seu nome, sua profissão, sua filiação? Que informações sobre você são relevantes para lhe apresentar e lhe descrever? Você responderia com fatos ou com sentimentos?

Imagino que a maioria das pessoas responderia primeiro com o próprio nome. Eu responderia com meu nome, eu acho. Diria: Sou a Erika. Mas o que ser a Erika que dizer de mim? O que seu nome quer dizer de você? Você sabe por que tem o seu nome?

Há algum tempo fiz a árvore genealógica da minha família paterna e descobri que muitos nomes se repetem. Em um universo sem fim de possibilidades percebi que na minha família há vários Jacob, Miguel, Pedro, Vítor, Vicente ou Maria, nomes que são conhecidos para mim. Parece que desde sempre, mesmo mudando da língua alemã para a portuguesa, alguns nomes fizeram mais sentido que outros para nomear minha família.

Tenho um broche antigo que foi da minha tia-avó, Erika. Depois o broche foi da minha avó, Maria. Atualmente é meu (Erika) e será da minha filha, Maria. De alguma forma o mesmo nome deu conta de dar vida há pessoas diferentes, de épocas diferentes e com sonhos diferentes.

Nomear alguém não é qualquer coisa. Quando escolhemos o nome de alguém, inconscientemente estamos escolhendo uma série de expectativas. Lembro que a primeira vez que ouvi o nome Maria Eduarda foi em uma novela dos anos oitenta, quando eu era ainda criança. Em algum momento da minha vida decidi que se eu tivesse uma filha se chamaria assim.

A personagem da novela era a “heroína”: linda, inteligente e independente. De alguma forma esses eram os desejos para a minha filha ao nomeá-la assim. Tinha certeza da sua beleza, mas não queria que sua beleza fosse tudo, lhe desejava também inteligência e independência. Interpretação fácil? Nem tanto. Além disso tenho duas avós chamadas Maria e com certeza em alguma medida isso também me influenciou na minha escolha.

Um dos meus escritores favoritos, Saramago, diz em um dos seus livros que todos sabem o nome que tem mas desconhecem o nome que portam, ou seja, desconhecemos tudo que está por trás da dinâmica que nos nomeou. Nesses mais de 15 anos de experiência clínica já ouvi uma série de histórias diferentes e cada uma delas sempre me fez ter mais convicção que nada em nossa vida é isento de repercussões. Cada minuto de nossa história importa até mesmo aqueles que não tivemos a menor escolha. 

Não somos apenas um amontoado de DNA organizado de forma funcional. Somos muito mais que isso. Somos sujeitos produtores e produzidos socialmente, no encontro com o outro. É o outro que nos nomeia e nos alimenta inicialmente. Necessitamos profundamente que alguém se ocupe de nossa sobrevivência nos primeiros anos de nossa existência. E cada um desses encontros e vivências vai alicerçando o ser que vai sendo construído. 

Quem é você? Quem sou eu? Somos produtos de uma história singular que produz novas histórias singulares.

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