Governador, a RS-118 vai além de Gravataí; Viamão e Alvorada pagaram pela obra, mas só recebem ilusões

Arquivo/DV

Nesse 23 de dezembro de 2020, o governo do Estado, com pompa e circunstância, vendeu para a mídia gaúcha que as obras da RS-118 chegaram ao fim. Pois como contribuinte, cidadão e jornalista de ligações profissionais e afetivas com Viamão e Alvorada, digo que tal propaganda é mentirosa.

Reafirmo: é mentira! Se não é isso, é puro descaso – o que não é menos grave – com as populações dessas duas cidades que ficam do lado de cá do Rio Gravataí. Considero um escárnio, assim como foi Bolsonaro entregar a nova ponte do Guaíba sem iluminação, sinalização, ou sequer existir legalmente no mapa rodoviário, o que impedirá, até Deus sabe quando, a PRF de fiscalizar e autuar infratores. 

São décadas de espera. Essa rodovia já recebeu milhares de caminhões de dinheiro carregados com o meu e com o seu ICMS; a custas de empréstimos a juros elevados e também do sangue de centenas de vidas perdidas em acidentes.

Nos últimos 20 anos, nós ajudamos a pagar cada centímetro dos 21,5 km de asfalto, passarelas, duas pontes, sete viadutos, canos, tinta, brita, areia, cimento, lâmpadas, reassentamento de famílias, suporte financeiro para empreiteiras e cada uma das placas de sinalização colocadas em Sapucaia, Esteio, Cachoeirinha e Gravataí.

Nessa tarde, enquanto essas cidades comemoram em cerimônia de cunho eleitoreiro, Viamão e Alvorada seguirão aguardando algo mais que a fatura da obra.

Até hoje, o Estado não moveu uma pá de terra na parte da RS-118 que fica do lado de cá do Gravataí. Escuridão, ausência de iluminação e rachaduras no asfalto colocam nossas vidas em risco todos os dias; no máximo fazem a alegria de mecânicos, guincheiros e borracheiros. A única placa de sinalização que vi por esses lados foi um alerta de "pista com defeito".

Existe mais RS-118 além da rótula de entroncamento com a RS-030. A rodovia atravessa Alvorada na direção do Tarumã, cruza a RS-040 e segue até o Passo do Fiúza, no Lami. São 58,88 quilômetros de pistas deterioradas e muito chão batido. Então, como dizer que obras – ainda incompletas – em menos de um terço dos 80,38km totais estão 100% prontas?

Nem com licenciosidade poética.

Por isso, a mim irrita muito ver matérias e mais matérias destacando o avanço da obra entre Sapucaia e Gravataí. O papel do jornalista é questionar, não puxar saco. Uma nova luta começa imediatamente ao fim da anterior.

Entregar os 21,5 km com 20 anos de atraso merece seu destaque, mas não pode ficar só no oba-oba de botar o secretário de Logística e Transportes ao vivo a vender ilusões no microfone.
É preciso bem mais.

O governador precisa ser lembrado que o lado de cá também necessita da duplicação. Se ele, que veio da metade Sul, não sabe que a RS-118 cruza Alvorada e Viamão, a mídia tinha a obrigação de informá-lo. Eduardo Leite não poderia deitar na cama da ala residencial do Piratini nesta quarta-feira sem a preocupação de que quase meio milhão de pessoas nas duas cidades esperam pelo verdadeiro fim das obras.

O Jornal do Almoço, da RBS TV, deu hoje a mostra de que também não se importa com a nossa gente. Ao entrevistar o secretário Juvir Costella, Cristina Ranzolin quis saber de um novo viaduto junto da RS-030 e se sinalização e obras incompletas no trecho dado como pronto "vão esperar outra década para serem entregues". Deveria, no entanto, ter perguntado quantas décadas mais Viamão e Alvorada ficarão esperando pela obra – até a RS-040, que seja!

Nesse pedaço de mundo historicamente desprezado pelo poder econômico do Rio Grande, mas que jamais é esquecido na hora de pagar a conta, só se ouve falar em RS-118 quando o plano é tirar mais dinheiro do cidadão. Sim, a última vez em que se falou sobre a duplicação, a manchete envolvia pedágio e concessões a empresários amigos do governo.

Por falar em pedágio, lembro de outra obra vendida como benesse de Eduardo Leite: o viaduto da RS-040 (que no passado já foi sonhado no pacote da RS-118 duplicada) foi erguido pela EGR e pago com dinheiro do contribuinte.

 

Recorde aqui:

Governo do Estado avalia praça de pedágio na RS-118 para viabilizar duplicação até Viamão

Inauguração virtual: obra do viaduto da ERS-040 é concluída em Viamão

 

Por isso, perdoem-me, leitores, se por desesperança e irritação estou feito o Grinch querendo estragar o Natal dos outros. Assim como o rabugento personagem dos anos 1950, eu e os cidadãos de Quemlândia – quer dizer, Alvorada e Viamão – precisamos voltar a acreditar em milagres.

Mas quem seria nossa Cindy Lou Who?

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