André Pacheco não fala com o Diário. Desde a Operação Capital, a "Lava Jato" de Viamão, silêncio é regra. Foi assim em cada desdobramento da investigação conduzida pelo Ministério Público de fevereiro desse ano até aqui. Apesar de pedidos da coluna à assessoria de comunicação, a postura dele tem sido igual nesse retorno à Prefeitura, há pouco mais de uma semana.
Comentei no artigo André Pacheco reassume Prefeitura – as cadeiras da incerteza, que seria curioso observar que postura o chefe do Executivo adotaria restando poucos dias de mandato. Pois apesar de evitar holofotes, tem agido bastante nos bastidores.
Recorde aqui:
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Operação Pegadas: a política de Viamão pisa em ovos
Justiça afasta André Pacheco por mais 120 dias; A cassação antecipada e a morte anunciada
Estamos vendo algumas ações, isoladas, porém muito bem coordenadas. Meia dúzia de luminárias aqui ou ali, muita movimentação de fornecedores entrando e saindo do gabinete, a assessoria tentando fazer uma espécie de "relembre o que Pacheco fez" antes de ser tirado do cargo por quase um ano inteiro.
A mim parece claro que o prefeito tenta um "desagravo do nome" antes de deixar a cadeira definitivamente.
Existem pormenores de "iniciativas" em andamento e questões que envolvem a transição para a administração de Valdir Bonatto, mas isso fica para outra coluna.
Prometo!
Uma das cartadas mais interessantes no ponto de vista da promoção pessoal aconteceu nesta quarta-feira (23). E explora um caminho que não foi trilhado até aqui, já que Russinho e Nadim ignoraram – ou subestimaram? – a pandemia de COVID-19.
Hoje, Pacheco participou de encontro virtual com o presidente da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (FAMURS) Maneco Hassen. Os dois trataram da vacinação e da lotação das UTIs.
A jogada é genial em termos de visibilidade, uma vez que dia e noite a imprensa séria de Viamão informa que as vagas no hospital local estão escassas. O release divulgado pela Prefeitura crava até um prazo: "a vacinação no município deve começar até o final do verão".
– O diálogo traçado com o presidente da FAMURS foi muito esclarecedor, pois trouxe uma expectativa muito grande que até o final do verão nós conseguiremos começar a vacinação dos nossos munícipes – afirmou o prefeito no texto oficial.
Já o texto da FAMURS é mais realista. A entidade explica que as tratativas para a compra de doses do imunizante dependem do governo Federal e do plano de vacinação coordenado pelo Governo do Estado.
O consórcio de prefeituras da Região Metropolitana, a GRANPAL, também está parceira. Contudo, na prática, FAMURS e municípios associados mais apoiam do que decidem.
Segundo Hassen, Famurs e GRANPAL desejam comprar em conjunto doses das vacinas para os municípios. Se "tudo der certo", as encomendas deverão ser feitas em janeiro, com entrega em fevereiro. E se "nada der errado", a vacinação ocorreria em março do próximo ano.
Do ponto de vista da população, penso que é melhor uma promessa do que o gigantesco nada apresentado até aqui por Viamão. Do ponto de vista político, é uma boa ser lembrado como "o homem que viabilizou a vacina para o cidadão da Velha Capital".
Do ponto de vista de quem realiza cobertura política, quando vejo esse tipo de ação que envolve prazos, protocolos e leis "fora da jurisprudência" municipal, aqui nesse caso competindo a tomada de decisões à Anvisa e ao Ministério da Saúde, lembro de uma frase muito usada pela ex-deputada estadual e prefeita de Alvorada Stela Farias: "Tem sempre um anu querendo botar ovo no ninho dos outros".
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