"Ninguém mais adoece de outra coisa que não COVID-19";
"Nunca mais internaram um atropelado";
"Não tem mais baleado na fila por leito".
As frases acima são ditas com frequência por pessoas que rejeitam a gravidade da pandemia. Mas, infelizmente, a média histórica de pacientes internados na UTI adulta do Hospital Viamão (HV) por traumas, comorbidades e outras ocorrências médicas se repete em 2020. E pior: agora, somam-se a esses os casos positivos para o coronavírus. Na tarte da segunda-feira (6), os 15 leitos de UTI geral estavam ocupados por pessoas com os mais variados tipos de enfermidades.
E é exatamente por conta das outras demandas médicas que dez vagas para tratar pacientes com a COVID-19 foram criadas em junho. Mas aqui vai outro alerta aos negacionistas: ontem, só havia uma disponível – isso porque um óbito foi registrado no fim de semana.
Ou seja, quem estiver doente nesta terça-feira, só conseguirá internação no município se estiver com suspeita de infecção pelo novo corona.
O diretor técnico do Hospital Viamão lembra que a habilitação da UTI para receber os casos de coronavírus evitou o colapso no atendimento.
– Temos uma ocupação total dos leitos em junho/julho. Nesta época, aumenta o número de pacientes com dificuldades respiratórias, e neste ano temos também o coronavírus. Até agora, estamos dando conta do recado, mas os casos graves, que damandam UTI, aumentaram – explica João Almir Camargo Jorge.
Fonte: Hospital Viamão
Falta de anestésicos
Se a situação já não fosse preocupante o bastante, o diretor técnico ainda revela um agravante: só há medicamentos anestésicos, sedativos e vasopressores para mais alguns dias.
– Nosso estoque, na melhor das hipóteses, dura mais uma semana. Se a situação não mudar, depois não sabemos o que acontecerá – alerta.
Camargo Jorge explica que o desabastecimento se dá por conta das dificuldades de mercado. Além da demanda maior em todo o país, reflexo direto da pandemia, os preços, segundo ele, "subiram uma barbaridade".
Algo além da lei da oferta e da procura.
– É ganância mesmo – reforça o médico sobre os reajustes em substâncias indispensáveis para anestesias.
Diante do gargalo de mercado, o Hospital Viamão suspendeu as cirurgias eletivas (agendadas) desde 26 de junho. Apenas os atendimentos de urgência e emergência estão mantidos, contudo, o diretor técnico conta que a casa de Saúde está improvisando para prestar os serviços.
– Estamos usando um esquema "de segunda linha", porque o "de primeira" já acabou. Não é o ideal, mas não deixamos de atender – completa.
Apelo ao Estado
A crise que afeta os pacientes não urgentes, urgentes, com ou sem COVID-19, não é exclusividade de Viamão. Por isso, Camargo Jorge diz que todos os hospitais administrados pelo Instituto Cardiologia estão em contato com o governo do Estado em busca de soluções.
– Estamos fazendo apelo ao Estado. Por enquanto, procedimentos cirúrgicos de urgências em traumato/ortopedia ainda ocorrem – conclui.
Preocupação com pacientes COVID-19
O governo do Estado destaca que o problema também atinge o tratamento dos pacientes internados com coronavírus em UTIs. Diante do atual cenário de desabastecimento de medicamentos do chamado kit intubação, conforme a Secretaria da Saúde (SES), a orientação aos hospitais públicos e privados é para que cancelem a realização de cirurgias e procedimentos eletivos por tempo indeterminado.
A SES informou que adota medidas práticas como o levantamento da demanda por parte dos hospitais que integram o Plano de Contingência Hospitalar, bem como do estoque existente, e busca o apoio do Ministério da Saúde (MS) para a solução do problema.
De acordo com o Estado, O MS acenou com uma compra emergencial no mercado nacional, e até mesmo internacional para reabastecer os Estados.
Em seu site, a secretaria afirma que está solicitando que hospitais e clínicas públicas e privadas para que disponibilizem aos hospitais com setores de Emergência e Unidades de Terapia Intensiva seus medicamentos desta categoria em estoque, especialmente sedativos e bloqueadores neuromusculares. Ao mesmo tempo, contata distribuidoras de medicamentos do RS para verificar se possuem esses sedativos em estoque.
Diz o Estado:
"Cabe destacar que a responsabilidade pelo abastecimento desse tipo de medicamento não é de competência da Secretaria da Saúde, mas sim dos próprios hospitais. Mas, neste momento de pandemia, a pasta não poderia se furtar de tentar auxiliar as instituições e, consequentemente, a população gaúcha que necessita de um leito de UTI.
Vale lembrar que o acesso ao leito de UTI é uma medida extrema. A sociedade deve adotar as medidas de proteção (como o uso de máscaras e a higiene pessoal, entre outras) e respeitar as normas de distanciamento controlado do Governo do Estado para evitar a sobrecarga da rede de hospitalar."
Leia na íntegra a nota Informativa da SES clicando aqui.
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