Tão importante quanto saber as razões da derrota é identificar as diretrizes aplicadas quando se vence. Desde a improvável goleada contra o Flamengo, porém, Diego Aguirre tem rasgado a normativa. A presença de dois volantes de contenção atrasa o time, deixa o meio-campo previsível e isola Taison e Yuri Alberto.
Dois volantes, com Edenílson mais à frente, deve ser mecânica alternativa em jogos pontuais, notadamente contra os grandes e fora de casa. Contra o Atlético-GO, em Porto Alegre, Goiás, ou em Marte, a obviedade grita: camisa 8 ao lado de Dourado, com mais um meia ou avante entre os 11. Mais claro que o sol! Desde a Era Odair Hellmann, Ed é destaque também atuando como segundo homem. Portanto, seu sucesso não é condicionado a presença de dois camisas 5.
Repertório! Eis o que separa times comuns dos postulantes ao lugar mais alto do pódio. Na era da tecnologia e da globalização, cada detalhe pode valer bola na rede. Eliminado precocemente das Copas, Aguirre tem tempo de sobra para testar desenhos, buscar planos b, c e d para, quiçá, surpreender o oponente.
Maurício é alternativa para exercer o pensamento e tentar elevar as ações da equipe. Se fizer apenas o óbvio, Aguirre coloca o camisa 27 na vaga do sempre instável Patrick. Para meu gosto, o meia deve atuar centralizado, jamais aberto e limitado pela linha lateral. Cadenciando. Acelerando. Retendo. Respirando. Taison está armador por conveniência. Sua técnica elevada passa a falsa impressão de que pode ser o 10 de direito. Não pode. Não deve. Precisa atuar cada vez mais próximo do gol rival.
Dourado e Edenílson. Palácios, Maurício e Taison. Yuri Alberto. Eis a troca do 4-4-2 inglês pelo 4-2-3-1 disseminado pela França na Copa de 98. Quem sabe um 4-3-3 com linhas avançadas? Taison à esquerda, Palácios na camisa 7. Maurício e Edenílson na mesma linha? Sem a bola, 4-1-4-1. Ou ainda um 4-4-2 losango à moda Argentina? Neste cenário, ainda mais ofensividade: Dourado recuado, Edenílson e Maurício como médio-apoiadores, com Taison na ponta-de-lança. À frente, Yuri e Guerrero.
Alternativas não faltam. Tempo também há. O que não pode é atuar contra os rivais “menores” com dois volantes pregados e laterais com pouca ambição ofensiva. Aliás, Paulo Victor, na comparação com Moisés, nos remete a Júnior, Nilton Santos, Roberto Carlos e Marcelo. Exageros à parte, a camisa 6 é outra obviedade ignorada por Aguirre.
Tomara que o Inter não se contente com a má fase do rival. O nivelamento por baixo é um dos principais males da grenalização. Há mais de 100 anos. Portanto, ao ataque, colorados! Perdão, senhoras e senhores. Às vezes até a obviedade precisa ser dita!