Esses dias perguntei a uma amiga se ela gostaria que eu escrevesse sobre o espaço cultural dela aqui na A Cultura Ainda Pulsa, ela topou, mas hoje me presenteou com um desabafo emocionante. Pedagoga, especialista em arte/educação, mestranda em Processos e Manifestações Culturais, fazedora de cultura e proprietária do Espaço Cultural Clube do Museu, na Santa Isabel, inaugurado uma semana antes do decreto oficial em que fechou escolas, centros culturais, e concretizou o isolamento social, o espaço de fala hoje é da Kelly Bernardo Martinez.
“Em tempos de pandemia, que assola, maltrata e castiga, lembrar do termo viver é algo que alivia. Esse texto vem propor que falemos do que é vivo e pulsante. É preciso dar visibilidade para o que pulsa em nossa cidade e é disso que precisamos falar hoje.
O setor cultural em Viamão tem sofrido muito com a falta de apoio, falta de recursos e algumas iniciativas culturais estão encerrando suas atividades nos espaços físicos que mantinha, pois não estão conseguindo manter os custos. Temos visto isso em outros setores, como o comércio e até a indústria.
O que a comunidade perde com isso? Bem, um espaço cultural pode ser caracterizado como um espaço que fomenta a economia, os serviços, obviamente a cultura, o lazer e especialmente, a educação. Como o título deste texto é sobre uma cidade que vive e pulsa, o objetivo é ilustrar duas diferentes realidades, pois a arte se manifesta a partir do que é real, seja positivo ou negativo.
Todo o artista quer comunicar algo e, para isso, se baseia na realidade em que vive. Os fazedores de cultura, as pessoas que possuem espaços culturais, os agentes culturais, na forma ampla do termo, estão pulsando neste momento, pois qual momento em que o coração mais pulse, senão quando se está em perigo? O perigo de perder, de não poder recuperar, de não se reerguer.
O pulsar que se manifesta hoje no município de Viamão é algo muito emocionante, pois vem desse desejo pela vida, para que as coisas sobrevivam e diante desse cenário pandêmico, os fazedores de cultura têm se unido, conversado, enfrentado juntos as dificuldades e pensado soluções para a continuação do pulsar. Alguns espaços culturais estão negociando junto às imobiliárias e dando continuidade remotamente às atividades, outros, seguindo seus projetos de forma totalmente remota e engajando os seus públicos, com almoços (com telentrega), outros ainda, promovendo lives, conversas com o público pelas plataformas de vídeochamadas, buscando incentivos e recursos em editais e todas essas iniciativas têm demonstrado sucesso. Tal êxito é fruto de um trabalho de engajamento social, colaborativo e que demonstra o quanto a comunidade sente falta de projetos assim e fazem de tudo para que tais espaços e iniciativas sejam mantidas.
Não é o momento de lastimar pelo que foi perdido, tudo é reinvenção, readaptação e transição. ‘Viver é um sonho mutante’ às vezes individual, às vezes coletivo. Em Viamão, os corações pulsantes têm se encontrado e nesse próspero, fecundo e arfante movimento a essência cultural de Viamão vai continuar a viver."