A Prefeitura divulgou na tarde desta segunda-feira (13) que oito segmentos do comércio estavam liberados para retomar atividades em Viamão. Porém, horas depois, o município precisou voltar atrás. No fim das contas, apenas ópticas e óticas, lojas homeopáticas e serviços fonoaudiólogos poderão reabrir, desde que sigam as orientações sanitárias para evitar a proliferação do novo coronavírus.
Pouco depois do almoço, o prefeito interino assinou o decreto 036/2020, que incluia escritórios de contabilidade e advocacia, higienização veicular, lojas de uniformes equipamentos de proteção individual EPI's e oficina de bicicletas. Na sequência, a Câmara dos Dirigentes Lojistas Viamão (CDL) informou em sua página no Facebook que a liberação surgiu de parceria da direção da entidade com a direção da câmara de Vereadores.
Por volta das 17h, Russinho assinou o decreto 037/2020, retificando a medida anterior e reduzindo o número de estabelecimentos liberados para abrir as portas. Fonte ligada ao gabinete do prefeito afirma que o recuo de Russinho foi mais um puxão de orelha do Ministério Público na Prefeitura.
Oficialmente, a informação não é confirmada.
Analiso
A sequência de fatos é cômica, para não dizer desastrosa. Respeito a missão e a intenção da CDL em ajudar seus associados, mas a velocidade adotada de forma recorrente pela Prefeitura para atender os pleitos do empresariado de Viamão é violentamente desproporcional na comparação com o ritmo empregado para resolver os problemas da saúde local, como nos casos dos enfermeiros, médicos e técnicos de enfermagem que estão sem receber salários e das pobres merendeiras e auxiliares de limpeza que estão desde dezembro sem ver a cor do dinheiro. E é so por esses grupos de trabalhadores que não comparo a improdutiva bateção de cabeça desta tarde no gabinete interino com um episódio desbotado e em baixa resolução dos dos trapalhões, um daqueles cheio de piadas quem margeiam a ética nos dias atuais.
Ao que tudo indica, o Ministério Público foi, de novo, o zelador da moral em Viamão. No dia em que o Ministério da Saúde colocou Porto Alegre, bem aqui do ladinho, na lista de cidades em situação de emergência por alto risco de propagação do coronavírus, lojas de bicicletas e lavagem de veículos estavam ganhando carta branca para voltar. Isso que no fim de semana a "chocofest viamomense" já havia sido dantesca o suficiente, como tratei nos artigos O gesto do pequeno Léo, a liminar da Havan e a sede pelo lucro; O que diria Jesus Cristo se descesse em Viamão hoje? e Ministério Público notifica Prefeitura a mudar decretos sobre abertura do comércio na Páscoa e intima Russinho a comprovar que medida não coloca população em risco.
Cansa ser repetitivo, ainda mais quando a situação é obvia. Não precisaríamos estar perdendo energia com esse cabo de guerra entre CPF e CNPJ se a população tivesse bom senso e ficasse em casa. Para piorar, do nada, a Câmara entra da discussão e pega – adivinhem – o lado errado da corda.
Esse relaxamento tão desejado por quem defende o lucro sobre a vida tem um preço: mais casos, mais internações, mais mortes… mas Russinho – e agora a Câmara – parecem só enxergar o custo político, de olho nas urnas.
Não foi dessa vez que o nó ficou mais frouxo, graças ao MP.
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