Vestindo um shortinho vermelho made in Brazil, a moça argentina adentrou ao Rio Grande do Sul. Alheia à cultura tradicionalista gaúcha.Talvez por achar semelhante ao folclore de seu país. Preferia ouvir Gonzaguinha. Dando um ar mais brasileiro ao seu gosto musical. Mas agora, o plano era: conhecer um pouquinho o sul do Brasil, história e particularidades. E logicamente, as praias brasileiras. Começando por Capão da Canoa. Em fevereiro iria para a Praia da Pipa e Itapema em Santa Catarina.
Olhar penetrante, parecia uma cigana. Sua pulseira dourada, brilhava ao sol. Deveria ser de ouro. Nenhuma aparência de bijouteria.Tão usual no Brasil. Porque as brasileiras preservam suas jóias dos ladrões e assaltantes de rua. Os cabelos da Argentina eram aloirados. Talvez não fosse original. Mas emprestava uma beleza ímpar ao seu rosto. De batom vermelho, sua boca carnuda chamava atenção. Os dentes, muito brancos, também.
Seu nome era Lorena. Deveria ter uns trinta e poucos anos. Viajou desde o norte da Argentina até o solo gaúcho. A cidade onde nasceu e vivia era Corrientes. Brincou com uma amiga brasileira que divertidamente começou a cantar um tango. “No, no, disse ela. Tangos são de Buenos Aires. Em Corrientes cantamos outras músicas. Como Mercedita. Conheces?” A gaúcha conhecia sim. “Nosso folclore tradicionalista é muito parecido”, enfatizou.
Lorena encantou-se com uma loja esotérica brasileira, chamada “A Bruxa”. Comprou incensos e algumas pedras de Lajeado. Depois uma camiseta branca que levaria para um amigo na Argentina. ”Me gusta las pedritas”. Sabendo exatamente qual a função delas. “A verde é para proteger a saúde e a pirita para atrair dinheiro”. A bolsa de Lorena começava a abarrotar. Eram vários souvenirs para familiares e amigos que ficaram na Argentina.
Ao telefone, num posto dos Correios em Capão da Canoa, ouviu uma contemporânea desesperar-se. A dita conterrânea estava com seu cartão de crédito bloqueado e pedia ao telefone, socorro para um parente em Buenos Aires. “No tengo mas plata”, gritava. Todos no posto telefônico se apiedaram dela. Ficar sem dinheiro em outro país que não o seu, é mesmo complicado. Como iria comer, pagar o hotel, abastecer o carro. Ficou por uma meia hora, pedindo socorro ao telefone. Depois se aquietou. Encerrou a ligação. Deixando o local com um semblante de preocupação.
Mas Lorena não tinha este problema. Era comerciante em Corrientes. E planejara muito bem a viagem ao Brasil. E os gastos que teria com nossa moeda. Continuava comprando. Desta vez, numa loja de calçados. Uma sandália dourada chamou sua atenção .”Muy guapa” (muito bonita), exclamou ela. É claro que comprou.
Seguiu pela cidade litorânea apaixonando-se por quase tudo. Principalmente pelo que via nas vitrines. Amando o solo brasileiro. Como quase todos os turistas argentinos. Agora, inesperadamente, desapareceu na esquina praiana. Com a boca pintada e seus cabelos encaracolados. O perfume” Rumba” de Balenciaga, que usava, deixou um aroma delicioso no ar. Apaixonada pelo Rio Grande do Sul ela prometeu voltar. Como sempre, “muy guapa”.