Passagem terrena! Quanta filosofia e pensar nestas duas palavras: nascimento e morte. Quase sempre ocorrem em hospitais. Lá se nasce. Lá se morre. Quanta perda de tempo, quanta estupidez, quanta picuinha podem ser deixados de lado quando se assume a verdade de um nascimento ou o sofrimento que antecede a morte.
A dor não escolhe idade nem gêneros. Vê-se de tudo na emergência do hospital. Velhas, crianças e jovens. Todos com problemas de saúde. Uns mais leves, outros muito graves. Mulheres com turbante escondem a cabeça raspada pela quimioterapia. Velhos tossem, seguram bengalas e andam devagar para não cair. Crianças coradas de febre e mães aflitas. É neste momento, que sentimos a fragilidade da vida. Embora o corpo humano seja uma máquina completa e com grande capacidade de regeneração.
A noite chega e deixa o ar mais úmido. É inverno. A toda hora chega gente a procura de um conforto médico. Há a espera. Há a triagem dos pacientes. E há o desespero de quem não está acostumado a ver de perto a seriedade e a dor das pessoas doentes. Médicos trocam plantões, enfermeiras correm com aparelhos de verificação de pressão. Pessoas atônitas em meio ao caos da madrugada. Algumas gemem de dor. Gritam.
Faz frio. E os atendentes da administração na sala da emergência alienam-se ao sofrimento alheio. Trocam risadas, falam de suas vidas pessoais parecendo não ligar muito para a pressa e desejo de cura que as pessoas almejam. Demoram, imprimem documentos numa complicada burocracia. Exigindo carteiras de identidade e dos convênios existentes. E muito dinheiro. Emergências sem convênios são caras.
Enfim, o caos é enaltecido. Colocam todas as pessoas numa grande sala para o atendimento médico final. Elas são chamadas uma a uma. Cansam e saem preocupadas. Umas são liberadas. Podem tratar-se em casa. Mas outras, em casos mais complicados, submetem-se à internações. Começa um novo ciclo. Com intermináveis acontecimentos. Desde nova espera para disputar um leito, até a demora para os exames médicos que são exigidos.
Na saída e na portaria da emergência, para um carro. O marido nervoso busca uma cadeira de rodas. Abre a porta do carro e ajuda sua esposa a descer. Ela está grávida. Tem dores. Deve estar quase na hora do parto. Seguem para a maternidade. E um novo ser gerado vai chegando ao mundo. Girando a roda da existência. Numa prova de que tudo se renova. Se chegamos, brindamos! Se partirmos, a espiritualidade se manifestará com certeza, em outra dimensão. Novos passos para a evolução!