O gesto do pequeno Léo, a liminar da Havan e a sede pelo lucro; O que diria Jesus Cristo se descesse em Viamão hoje?

Havan voltou a abrir para vender chocolates

Jesus Cristo ganhou pregos extras em sua cruz nesse ano. Talvez nem importe, porque a tal mensagem da Páscoa já morreu faz tempo. E não tem ressurreição que salve.

Em meio ao ódio alimentado pela guerra ideológica do novo coronavírus, diria até nutrida por ela, a disputa entre vidas e lucro foi partidarizada. A turma do “abre tudo” defende a cloroquina, o direito de ir e vir, de trabalhar, e ataca quem pensa diferente. Eles têm solução para tudo, mas não há remédio para o egoísmo.

Faz tempo que a Páscoa virou comércio – dentro e fora dos templos. E foi a única coisa que sobrou da tradição. Em tempos de crise, o que se espera dos líderes – religiosos e políticos – é a ponderação, o exemplo.

Em Antônio Prado, município de 13 mil habitantes na serra gaúcha, o menino Leonardo Cambruzzi, de 11 anos, juntou latinhas por uma semana, vendeu e doou o dinheiro para o hospital de sua cidade. Depois de entregar os R$ 21,45 que arrecadou, lamentou em uma rede social “ter conseguido tão pouco”. Ainda finalizou com “um fique em casa”.

Cada um doa o que tem. E o Léo doou empatia, respeito ao trabalho dos profissionais de saúde, amor pela vida do próximo. Mas o que diria Jesus se descesse em Viamão hoje?

Vemos a Justiça trabalhando feito nunca, tentando desentortar a balança – do lado do interesse pessoal para o lado do coletivo. Na quinta-feira (9) as promotoras Gisele Moretto e Karina Bussmann agiram pela correção das irregularidades no decreto do prefeito interino, evitando a abertura de estabelecimentos comerciais além do que previa a liberação temporária para a Páscoa. A Havan ignorou, foi fechada pela fiscalização na tarde de ontem. Mas já está aberta novamente, graças a uma liminar em que alega ter “alvará de hipermercado” e que “pode vender alimentos”.

Qual gesto é o mais correto: o do menino, que entrega suas suadas moedas, ou o do Luciano Hang, que coloca seus funcionários em risco em nome do lucro? Aliás, alguém sabe dizer quanto o homem que detém a sétima maior fortuna do Brasil doou nesta crise? Sobrou algum centavo para Viamão? Quem tiver uma fonte segura, que não seja do Whatsapp, me passa que publico os valores aqui.

Para não ficarmos no dinheiro apenas, volto para o Ministério Público, que exigiu do prefeito Russinho um estudo epidemiológico detalhado sobre a liberação do comércio. As promotoras, com lucidez, querem do município ações técnicas, baseadas na ciência, mas, acostumada a resolver tudo na caneta alimentada pelo jogo político, a Prefeitura agora não sabe para onde correr.

Essa liminar permitindo a caça aos ovos na Havan colocou na rua quantas mil pessoas a mais? Sim, pois Viamão age na base do “se ele pode, eu também posso. Excluindo as que o decreto de calamidade permite, viram quantas lojas não especializadas em chocolates estão abertas hoje? Não seria ético nem mercados fazerem anúncios de promoções durante a crise, mas quem se importa? Muitos tomaram lugar na fila da insanidade.

Enquanto o pequeno Léo pede para cuidarmos uns dos outros, o Hang, os empresários, o presidente, todos querem seu dinheiro. E só! Para eles, arriscar sua saúde “é do jogo”. Depois, se algo der errado com você, eles vão dizer que quem tem que pedir desculpas é a China. Eles “só queriam trabalhar”.

Segundo a Bíblia, Jesus expulsou os mercadores do templo porque estavam usando a casa de Deus para fazer negócio e roubar o povo. Se o Salvador viesse até Viamão neste fim de semana e visse seu nome usado para barganhar, o que ele faria?

Feliz Páscoa a quem puder.

#FiqueEmCasa

 

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