O louco

Por algum desvio psicológico não esclarecido,
ele nasceu louco. Desequilibrado seguia pela
vida. De perto, parecia normal. Mas na
convivência, profundamente anti-convencional.
Gostava de complicar a vida. E assustar as
pessoas. Juntando à isto, um certo terror
sádico-paranóico . Não parecia querer o bem de
ninguém. Gostava de ver as pessoas com medo.
De vê-las chorar. E o mal de todos, para ele, era
o seu bem-estar.
Aos 19 anos, num de seus atos tresloucados,
jurou estar enamorado de uma moça. Perseguiu-
a até conseguir namorá-la. E foi de pé, fugindo
dos pais da garota, que tirou sua virgindade na
porta da casa dela. O resultado foi uma gravidez
que o obrigou a um casamento forçado. A moça
era menor de idade. Ele tentou fugir, mas a
justiça o obrigou a casar .
Era de classe média. Mas com este primeiro
casamento, desceu à condição de miserável.
Não tinha certeza do que queria na vida. Mas
como todo ser em desequilíbrio, foi fazendo
filhos na esposa até a exaustão. Foram nove,
em escadinha. A casa não tinha televisão. Nem
ele dinheiro para ir ao teatro. Desta vez, na
cama, em meio a um prazer carnal inusitado.
Exigia que a esposa apagasse a luz nos atos
sexuais. Todas as crianças foram feitas no
breu. Nesta escuridão não dava prá ver se a
distinta estava nua ou parcialmente despida.

Com a cabeça já em descompasso, aderiu ao
álcool. Tinha uns quarenta anos e muitas
estórias malucas. Todo dia ele bebia. Dizia ser
alcoolista e não alcoólatra. Mas em verdade era
um doido bêbado. Que após os porres diários,
delirava. Se achava um ser superior. Mas era
somente um bagual reprodutor. Seu saco
escrotal era enorme e roxo. Se fosse um touro,
com certeza, receberia uma medalha da
Expointer.
Envelheceu mergulhado no álcool. Como
aqueles ovos de boteco. Que se mantém por um
longo tempo no vinagre. Depois dos porres, se
apagava. Ia dormir. Não dava bola para as
responsabilidades. Não acreditava em Deus
nem na bondade do mundo. Assim, desajustado,
vivia em apartamentinhos infectos e alugados.
Era seguidamente despejado. E não aprendia.
Voltava ao seu infortúnio, o álcool.
Os filhos crescidos se afastaram dele. As
mulheres que teve também. Hoje vagueia em
noites mal dormidas com o coração acelerado
de tanta consciência pesada. Quase sempre
perde o sono. Delira em noites confusas entre
suas verdades e a incontestável loucura. (Ana
D´Avila)

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