Reportagem: Equipe DV. Edição e revisão: Luiz Fernando Aquino
O Diário de Viamão inicia hoje uma série de cinco reportagens que vai fazer um raio-x do cenário político viamonense após as eleições de outubro. A reportagem ouviu lideranças políticas de situação e de oposição, analisou os principais fatos e traz informações exclusivas.
Série “O Mapa da Política Viamonense”:
1. A NOVA COMPOSIÇÃO DA CÂMARA – Um balanço sobre as forças políticas no legislativo e as tendências para os quatro anos;
2. NO JOGO DE XADREZ DA POLÍTICA, COMO ESTÁ O TABULEIRO? As urnas reposicionaram novas e antigas lideranças; quem avançou, quem retrocedeu e quem está fora do jogo;
3. CHEGANDO AOS 16 ANOS, PSDB TEM DESAFIO DE NÃO REPETIR O PT – Um comparativo histórico dos grupos que dominam a Prefeitura nos últimos 30 anos;
4. QUEM É E O QUE PENSA RAFAEL BORTOLETTI – O DV ouviu políticos, amigos e assessores e faz um perfil do prefeito eleito por quem mais o conhece;
5. A VOZ DO NOVO PREFEITO – Entrevista exclusiva com Rafael Bortoletti.
A NOVA COMPOSIÇÃO DA CÂMARA – Um balanço sobre as forças políticas no legislativo e as tendências para os quatro anos
Se a vantagem do prefeito eleito Rafael Bortoletti para Guto Lopes já foi expressiva, os números da eleição para vereador foram ainda mais impressionantes para a base governista e, principalmente, para o PSDB. Os partidos da coligação de Bortoletti fizeram nada menos do que 64% dos votos válidos para vereador, garantindo 16 das 21 vagas em disputa. Somente o seu partido, PSDB, conquistou um terço das cadeiras: sete vereadores eleitos. Para se ter uma ideia do tamanho da vantagem, apenas o PSDB fez mais cadeiras do que toda a oposição somada.
Confira, bancada por bancada, o panorama da Câmara Municipal de Viamão:
PSDB domina e renova
Não era segredo para ninguém: a meta do PSDB era eleger cinco vereadores. Bonatto mirava a repetição de 2016, mas Bortoletti dobrou a aposta. Montou uma nominata de peso e faturou o prêmio principal. A tendência é que o partido tenha novamente duas presidências ao longo da legislatura.
• Enfermeira Michele Galvão: a mulher mais votada da história é a liderança mais próxima do prefeito eleito. Não há definição se voltará a ser secretária de Saúde, mas é certo que será a primeira mulher presidente da Câmara de Viamão, provavelmente em 2028.
• Plínio Konig: outro candidato ligado à área da saúde, foi coordenador da US Santa Isabel; aos 61 anos, já foi empresário reconhecido e levará uma boa oratória para a tribuna;
• Luisinho do Espigão: o único reeleito do PSDB, o atual presidente da Câmara colheu como poucos as obras da gestão Bonatto/Nilton; com a experiência acumulada, será um dos homens de confiança do prefeito na Câmara;
• Marcia Culau: fez votos em 74 dos 75 colégios eleitorais de Viamão, na sua primeira experiência como candidata; deve voltar a assumir a Secretaria de Educação em janeiro, desejo que nunca escondeu de ninguém;
• Leandro Bonatto: escalado pelo pai deputado na última hora, o jovem de 24 anos terá a responsabilidade de carregar o sobrenome mais importante da política viamonense dos últimos 20 anos; não será surpresa se for o presidente mais jovem da casa em 2026, no ano da eleição para deputado, com o Bonatto pai mirando Brasília.
• Lucas Souza: bateu na trave em 2020 e entrou em 2024; herdeiro político dos votos de Maninho Fauri, deve repetir o estilo do mentor, apostando no trabalho dentro da comunidade;
• Diego Petry: apontado por muitos como a surpresa entre os eleitos, também estava na área da Saúde durante o governo (UPA); venceu uma disputa acirrada na região da Martinica e Santo Onofre e chega com moral;
• Além dos sete eleitos, o PSDB tem mais seis suplentes com mais de 1.000 votos:
◦ Dilamar, Armando e Keno não conseguiram a reeleição, mas as semelhanças param por aí. Dilamar deve assumir já no primeiro ano, com a subida de secretária(s). Armando tinha a preferência pela candidatura de Nilton Magalhães e manteve uma relação fria com a campanha majoritária. Já Keno de Paula, também muito próximo a Nilton, soube se movimentar e se reaproximou de Bortoletti.
◦ Dois novos nomes surpreenderam: Duda Peres, outra aposta de Bortoletti, que está de olho na movimentação de Michele e Marcia, podendo assumir já no primeiro ano; e Marquinhos Cecília, que deverá estar na gestão municipal;
◦ Tony Motos e Henrique Noronha dobraram a votação de 2020 e devem continuar na linha de frente na gestão Bortoletti.
PP de Bortoletti vence o PP de Nilton e Guto
O partido está passando por uma situação inusitada. Enquanto o presidente André Gutierres declara oposição ao governo Bortoletti, os dois vereadores eleitos (Carravetta e Almada) já se reuniram com Rafael e estão muito dentro da base. Calma, vamos te explicar.
A estratégia de distribuição de candidatos nos partidos aliados, executada por Bortoletti e Bonatto, foi positiva para o PP. O partido dobrou o número de cadeiras em relação a 2020, passando a ter dois vereadores e fez o segundo vereador mais votado de Viamão. Tudo perfeito, não fosse por um detalhe: a não eleição do presidente do partido, vereador e presidente da Câmara por duas vezes, André Gutierres.
Gutierres sonhava em ser o vice-prefeito numa chapa com Nilton Magalhães. Não levou, mas não saiu de mão abanando. Ampliou (e muito) seus espaços dentro do atual governo. Mesmo assim, não se aproximou de Bortoletti e Maninho. Pelo contrário, alguns assessores e parentes até fizeram campanha aberta para Guto Lopes. André apostou alto e perdeu. Embora continue com a caneta na mão, está com seu partido dividido e busca amparo na esfera estadual, mas terá que lidar com a situação que criou.
Maurício Carravetta persistiu e, depois de bater na trave por duas vezes, conquistou sua cadeira titular. Deve levar as pautas do comércio local para seu mandato. Felipe Almada recoloca a Vila Elsa no plenário, fazendo praticamente 70% dos votos na região.
PSD se consolida e mostra força
Em nível nacional e estadual, o PSD está sendo apontado como um dos grandes partidos, desbancando siglas tradicionais. Aqui em Viamão, o partido amadureceu e renovou duas cadeiras.
Dieguinho vai para o terceiro mandato ainda em ascensão. Aumentou sua votação e manteve o controle do partido, trazendo para a base do governo ainda em 2021. Próximo a Bortoletti, sabe que o partido terá uma das presidências da Câmara nesta legislatura.
A segunda cadeira é de Thiago Gutierres, que vai para o segundo mandato com o dobro de votação. Ao longo do mandato deu uma guinada forte para a direita, se consolidando como representante conservador na Câmara. Com uma forte estratégia de rede social e opiniões barulhentas, soube entender o seu público e cresceu no cenário.
Surpresa positiva no PSD, os 1.078 votos de Vitor Moreira, liderança das Augustas que fez uma bonita estreia nas urnas.
Coragem e estratégia – Podemos, Agir, Republicanos e União Brasil
Quando começou em 1º de janeiro de 2021, o governo Bonatto contava com apenas sete vereadores na sua base. Ao longo dos quatro anos, mais oito vereadores se juntaram ao grupo. Alguns deles trouxeram o partido inteiro junto, como Xandão, do Republicanos. Porém, outros necessitariam de uma nova casa para 2024. Designado desde sempre por Bonatto para fazer a relação com a Câmara, Bortoletti estreitou relações e teve provas de confiança que se refletiriam na campanha.
O Podemos tinha potencial para eleger dois vereadores e cumpriu a meta. Na disputa interna, William Pereira e Rodrigo Pox levaram a melhor sobre Kiko e conseguiram a reeleição. Pox, aliás, será o presidente da Câmara em 2025, após ter aberto mão para o PSDB em 2024, num acordo costurado por Bortoletti. Hoje, é um dos vereadores com mais trânsito com o prefeito eleito.
No União Brasil, Lucianinho Alves surpreendeu e levou a única vaga do partido. Contando com os vereadores Rodrigo do Bar e Preguinho, era esperado que o UB conseguisse mais uma vaga.
O Agir é mais um novo partido no cenário brasileiro e, aqui em Viamão, elegeu o seu único vereador do Rio Grande do Sul. Markinhos da Estalagem demonstrou coragem ao encarar um partido que lutaria por apenas uma vaga, com a concorrência interna de Guguzinho Streit e Mirtes Schwartzhaupt. Não apenas se elegeu, como ampliou a votação e garantiu 60% dos votos da Estalagem para Bortoletti.
O Republicanos encorpou a nominata buscando uma segunda vaga, mas somente Xandão Gomes conseguiu renovar o mandato. Prof. Igor Bernardes, que fez discreta campanha para a majoritária, ficou na primeira suplência e não tem proximidade com Bortoletti.
O encolhimento do PT: o pior resultado desde 1988
Em 1988, o PT elegeu seus dois primeiros vereadores em Viamão: Valdir Bonatto e Bazilé Alves. De lá pra cá, o partido nunca elegeu menos do que dois vereadores. Durante os 16 anos de gestão petista na Prefeitura, chegou a ter quase metade da Câmara. Em 2008, por exemplo, o PT fez seis vereadores dos 14 possíveis. Em 2024, fez apenas uma cadeira, com o ex-prefeito Alex Boscaini. O que aconteceu com o PT em Viamão?
Em 2024, não havia consenso sobre o nome de Guto Lopes para candidato a prefeito. Tudo indicava que haveria uma disputa interna, com a vereadora Fátima Maria. Guto não teria aceitado e voltou para o PDT, onde era unanimidade. Com isto, restava ao PT ser vice novamente ou ter uma candidatura própria. No andar da carruagem, o partido definiu por Fátima Maria e, com isso, deixou uma legião de descontentes que migraram atrás de Guto.
Alguns fazem a leitura de que Alex Boscaini conduziu a situação para esse desfecho, tirando Fátima da concorrência pela Câmara. Ele negou em tribuna, com veemência. O certo é que o PT perdeu espaço e votos, não renovou suas lideranças e terá quatro anos para se reinventar.
MDB encorpou mas não decolou
No papel, o time era forte, com os experientes Dédo Machado, Eraldo Roggia, Nadim Harfouche e Joãozinho da Saúde, além do mais votado de 2020, Roni Bella. Porém, assim como no futebol, o que vale é bola na rede. No caso, voto na urna. E o MDB saiu menor do que entrou. Em 2020, fez dois vereadores e agora somente um, o decano Eraldo Roggia, que vai para o oitavo mandato consecutivo. Roni Bella, que era a grande aposta, não chegou a mil votos.
O MDB não lança candidato a prefeito desde 2008, quando Sarico (falecido em 2021, vítima de Covid) ficou em terceiro lugar, atrás de Alex e Janes. Tem se contentado com participações como vice e, em algumas vezes, nem isso. O partido parece ter perdido força e, com isso, não conseguiu renovar seus quadros nem apresentar alguma novidade.
PDT aproveita o efeito 2020 e cresce votação
Talvez os mais jovens não saibam, mas o PDT já foi o maior partido de Viamão. Governou por duas gestões seguidas e elegeu Tapir Rocha deputado estadual, em 1990. Em mais de três décadas, o partido entrou em um vácuo de desempenho. Nas eleições de 2008, 2012 e 2016, sequer teve candidato a prefeito e chegou a ficar sem vereador. Em 2020, o partido fez uma boa leitura do cenário e quase emplacou Guto Lopes na Prefeitura, fazendo dois vereadores: Eda e Pox.
No embalo de 2020, com o mesmo Guto na majoritária, o partido atraiu candidatos com potencial e aumentou a votação total: de 6.475 votos em 2020 para 10.927 em 2024. Não foi suficiente para aumentar o número de cadeiras. Continuou com as mesmas duas – Marco Antonio Borrega e Eda –, mas fez boas votações com Paula Tavares, Miguel Lopes e Leandro Fanti.
Os dois eleitos tentarão manter o PDT como o principal partido de oposição. Eda, no terceiro mandato, e Borrega, um estreante mais conhecido no meio rural, terão essa missão.
Que tipo de oposição será o PL?
O avanço do PL nos legislativos municipais não se concretizou aqui em Viamão. O partido repetiu o desempenho de 2020, quando também elegeu um vereador. Jonas Rodrigues concorreu por PSD (2016) e Cidadania (2020), ficando na primeira suplência nas duas ocasiões. Era secretário municipal de Esportes até 2022, quando decidiu apoiar Bibo Nunes e sua filha nas eleições para deputado. Com isso, foi convidado a se retirar do governo, que tinha Bonatto como candidato. Soube transitar no mundo da direita, atraiu a parceria do ex-vereador de Viamão e atual da capital, Jessé Sangalli e, com isso, turbinou sua campanha com recursos e visibilidade. Não foi suficiente para fazer uma grande votação, mas garantiu a vaga.
Resta saber agora a postura de Jonas na Câmara. Vai se juntar com PT e PDT na oposição ao governo e, com isso, “trair” os ideais da direita? Ou vai tentar uma aproximação ao centro governamental?