Quando era menor, lembro-me de sonhar muito com o futuro, com as coisas que ainda estavam por vir. Sempre fui idealizadora, de planos mirabolantes, grandes feitos que eu iria realizar e algumas horas reservadas em criar o príncipe perfeito com quem eu iria me casar.
Com o passar do tempo, perdi um pouco da capacidade de fazer planos a longo prazo, apesar de ainda sonhar acordada. Sempre que me perguntam, “mas e daqui a dois anos?”, fico totalmente sem palavras, porque acredito que a sensação de que podemos vislumbrar as coisas com tanta convicção em um futuro distante é, no mínimo, um pouco enganosa.
A vida acontece sem aviso prévio, algumas das coisas que vivemos e que ainda vamos viver acontecem justamente quando não estávamos esperando por aquilo. Podemos planejar, traçar caminhos no papel, listar os afazeres do dia e até mesmo jurar amor eterno nos votos de casamento.
Acontece que na vida prática não existem garantias de nada, nada nos salva do acaso do que está por vir, que é absolutamente desconhecido. Com a pandemia, fomos praticamente obrigados a aprender a lidar com a falta de controle que é inerente ao ser humano. Temos dificuldade de aceitar que quase nunca estamos um passo a frente, fazemos nossos “cheklists” com a intenção de diminuir um pouco essa sensação que permeia nossos dias, sensação de estar á margem do destino, esperando o próximo sinal para seguir em frente.
Entretanto, podemos enfeitar nossa jornada de acordo com nossos sonhos, praticando ações que trarão aquilo que desejamos um pouco mais para perto. Podemos ser protagonistas das nossas próprias histórias, sem esperar a luz divina descer do céu. Muito provavelmente, de nada adiantará Jesus Cristo vir à Terra para resolver os seus problemas e pendências.
Ainda assim, sendo protagonistas de nossas histórias, ativos e articulados em todos os nossos planos, a vida não nos deixa muito espaço para controlar nossos caminhos. E tudo bem, as coisas acontecem, o amor chega e as oportunidades aparecem. O amor se vai, as coisas ficam difíceis. Quase nada disso estará no seu “planner”, nem na lista de afazeres do dia, porque as melhores coisas que irão te acontecer não virão através de planejamentos calculados.
Você pode concordar ou discordar, mas a verdade é que não sou adepta aos planejamentos a longo prazo, e há muito desisti de idealizar o príncipe que chegaria para me resgatar de todos os meus percalços. Na minha vida, as coisas sempre aconteceram sucessivamente, sem avisos ou paradas para descansar e tomar fôlego. Isso é belo, e também pode ser desconcertante.
No entanto, é como deve ser, usando de uma metáfora… imagine que você escreve um livro, por muito tempo dedica seu tempo e sua atenção a ele, no final desse processo, você o envia para a editora. Ela se chama “Acaso” e decidirá os últimos detalhes da sua história, ajustando aqui e ali a sua escrita. Um dia, você passa pela vitrine de uma livraria e vê o seu livro nela, ele estará decorado e concluído. Mas não foi você quem completou aquele projeto sozinho, você teve a ajuda do acaso. E não existe a possibilidade de publicar o seu livro sem o acaso.
Com carinho, Alice.