Meu pai ficava introspectivo na época do Natal. Normalmente alegre transformava-se quando dezembro se aproximava. Nunca perguntei para ele o porque daquele silêncio. Mas hoje entendo o que talvez, ele escondia: suas tristezas. Principalmente as perdas de seus entes queridos. Seu irmão e sua mãe. Que faleceu jovem quando ele tinha apenas quatro anos. Perder alguém que se ama na infância é como carregar um sofrimento para toda vida.
O impressionante é que esta vida se renova. Em novos rostos, novas inquietações e novos acontecimentos. Sentada, eu olhava para meu pai. Na época do Natal ele não era mais o pai que gargalhada, que fingia ser feliz. Era um homem cheio de saudades. Embora centro de nossa família, ele ficava desconfortado no Natal. Mesmo com nossa presença: filhos e netos, mais minha mãe. Mesmo assim, ele se envolvia numa grande seriedade, que não era típica dele.
Acredito nas festividades do Natal, que devemos louvar o nascimento de Jesus. Festejar. Mas para meu pai, a data o transportava para a solidão. E era no silêncio que ele permanecia. Talvez rezasse. Talvez relembrasse sua traumática infância. Ele foi criado por uma tia, na cidade de São Jerônimo. E, todo Natal era movido por aquele estranho silêncio. Hoje, com maturidade, mais compreensível para mim.
Muitas pessoas sofrem traumas. E se eles acontecem na época do Natal, são fatalmente incorporados em suas memórias. Meu pai faleceu em 2004 aos 79 anos.
E sempre ficava triste no Natal. Entretanto no Ano Novo, quebrava o silêncio. Comemorava em família. Como se houvesse o sofrimento e depois uma aceitação do novo. Que sempre chega com a festa de final de ano. Feliz Natal para todos nós e um Ano Novo renovado em alegrias, paz e saúde.