Se Michel Temer acredita que os tais bons indicadores econômicos vão tirá-lo do brete que leva ao abate, o governo vai atravessar um longo tempo de apodrecimento até o inevitável impeachment.
Além de sua impopularidade e da desaprovação geral às reformas em pesquisas de opinião, ganha um deputado lobista da JBS ou da Odebrecht quem achar alguma família que tenha sentido no bolso a recuperação da economia.
Tudo que o governo não tem é tempo para que o povo reconheça o herói incômodo.
– Não podemos jogar no lixo da história todo esforço para tirar o país da recessão – apelou o presidente eleito para ser vice, em um rápido pronunciamento há minutos na TV, onde apareceu ao vivo contrariando sugestões de seu círculo mais próximo, e subiu o tradicional tom monocórdio e garantiu que seguirá hóspede do Palácio do Jaburu.
– Não renunciarei – disse, seguido por tímidas palmas de assessores no auditório, e buzinaços e gritos nada elogiosos pelas ruas do país.
Observando que seu governo atravessou nesta semana “o melhor e o pior momento”, com dólar e inflação controlados, a volta da criação de empregos e uma barganha com prefeitos que em troca do alongamento de dívidas dos municípios faria avançar a Reforma da Previdência, Temer lamentou ainda não ter sido autorizado pelo STF a assistir a gravação que, como já ocorreu com a ex-presidente Dilma Rousseff, chamou de “clandestina”.
– Não comprei o silêncio de ninguém – disse, admitindo ter recebido um dos integrantes da dupla Wesley e Joelsley, que relataram a ele que a JBS “ajudava a família” do malvado favorito Eduardo Cunha num cala-boca semanal que chegaria a quase meio bilhão de reais.
Temer elevou mais uma vez a voz ao dizer que a negativa de renúncia não tem a ver com a possibilidade da perda do foro privilegiado.
– Não temo nenhuma delação. E não preciso de cargo ou foro para me defender – disse, exigindo “investigação rápida” no inquérito recém aberto pelo Supremo Tribunal Federal.
– O STF será o território em que demonstrarei não ter envolvimento com nenhuma compra de silêncio.
Aguardemos o primeiro vazamento no Jornal Nacional, enquanto os saltos do navio e as informações de Brasília parecem indicar que o governo já sobrevive a conservantes.
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