O prefeito da Capital anunciou ajustes na política de isolamento social. Preocupado com o aumento exponencial (expressão dele) dos casos de coronavírus, Nelson Marchezan Júnior aumentará, a partir de amanhã (16), as restrições para alguns setores da economia. E alertou: se nada for feito, em 15 dias não haverá mais leitos disponíveis para atender a população. Aos desavisados, é justamente aí que entra Viamão.
Na coletiva do domingo (14), em que justificou o novo regramento, Marchezan lembrou que o esforço extra de Porto Alegre tem a ver também com a Região Metropolitana. O vai e vem diário entre as cidades, necessário ou irresponsável, aumenta a propagação do vírus. Pior que isso, municípios como Alvorada, Guaíba e Viamão respondem por 60% dos leitos ocupados na Capital – independente de COVID-19 – é a taxa média histórica de pacientes atendidos lá que são de outros CEPs.
Vale lembrar que dos 10 pacientes locais infectados pelo novo corona, oito estão internados em hospitais de Porto Alegre e apenas dois no Hospital Viamão, mesmo com a inauguração de 10 leitos de UTI exclusivos para tratar a doença aqui no município.
Por essas e outras, Júnior avisou que precisa do apoio das cidades vizinhas. Nominou Viamão entre os municípios que preocupam pelo crescimento dos casos. Disse, em outras palavras, que está na hora dos prefeitos do entorno agirem. E ele está coberto de razão.
Embora eu tenha provocado (no sentido de estimular), não lembro de ter recebido ou lido em qualquer tipo de mídia (nem mesmo no zap-zap da família) uma palavra qualquer de Russinho sobre a pandemia. O prefeito interino de Viamão não lamentou nem o primeiro caso, nem o 129º (número atualizado às 17h). Não decretou luto oficial, não pediu um minuto de silêncio ou sequer assinou uma nota de condolência direcionada aos parentes da primeira ou da nona vida perdida para o vírus na antiga Capital.
Até as figueiras de Viamão sabem da pressão política feita pelos igrejeiros e empresários – de Fiat Marea 2002 ou de BMW último modelo – para manterem as portas abertas "com os devidos cuidados, é claro". Enquanto o povo se acotovela nos ônibus lotados sem fiscalização ou flerta com o perigo empurrando seus filhos nos balanços das praças, a opção da Prefeitura é seguir a cartilha do protecionismo econômico.
Se a opção da Administração de Viamão é essa, que assuma logo! É legítima a preocupação com a arrecadação, a escolha de um lado, mas dá pra fazer isso de forma ordenada, bem mais responsável. Basta assumir as consequências.
Desde a canetada que reabriu o comércio, em 1º de maio, os casos locais dispararam de 22 para 129 – mais 488% – e nove mortes foram registradas. E, até agora, o único alerta, o necessário pedido de sanidade, veio do prefeito de Porto Alegre. Por aqui, só o silêncio habitual.
Se Russinho não quer se indispor com os empresários, tem de se apressar, fazer algo. Para não ter que ordenar novo fechamento do comércio, terá de encontrar a fórmula para controlar os "covidiotas", expressão criada pelo Rafael Martinelli, e que adoto para fazer referência aos céticos da pandemia que bradam por aí "não ser nada" as nove vidas perdidas. São os mesmos que também defendem ser necessária a dezena que temos hoje em camas de hospital, alguns na iminência de terem suas vidas amarradas por fios e tubos a respiradores. Ou esses negacionistas são convencidos "a ficarem em casa, para quem precisa possa trabalhar", ou a curva de contágio continuará aumentando.
Mas o chefe provisório do Executivo precisa lembrar que não existe almoço grátis. Se não comprar a briga com os empresários, se indisporá com a população. Pesquisa da Ipsos mostra que sete em cada 10 brasileiros não concordam com a reabertura de estabelecimentos comerciais. O estudo Tracking the Coronavirus, realizado com entrevistados de 16 países, ouviu 1000 brasileiros. E aponta também que 71% acreditam que a reabertura de comércios colocaria muitas pessoas em risco. Os dados foram colhidos entre o período de 21 a 24 de maio de 2020. A margem de erro é de 3,5 pontos percentuais (confira outros dados aqui).
Independente de para qual o lado, Viamão precisa se mexer. Parada como está, o quadro tende a piorar. Nem que seja um "Ai!", Russinho tem de dizer. A coluna pediu para a Comunicação da Prefeitura informações sobre o que está sendo feito, qual o plano de ação daqui por diante e o que o prefeito tem a dizer sobre as declarações de Marchezan. Estamos aguardando.
Fala, Russinho!
Números de uma guerra:
Brasil:
873.963 confirmados, 43.485 mortes – 598 nas últimas 24 horas; (até 13h desta segunda-feira)
Rio Grande do Sul:
15.438 confirmados (+793) em 350 municípios (70% de 497 municípios) – 360 mortes – 10 nas últimas 24 horas;
Viamão:
129 casos (+11 nas últimas 24 horas) – nove vidas perdidas.
Dados de 15/06/2020
LEIA TAMBÉM
Após profissionais testarem positivo para o coronavírus, UBS Krahe passa por desinfecção
Projeto social traz a musicoterapia para pacientes autistas de Viamão
Conheça a UTI exclusiva para tratar pacientes da COVID-19 em Viamão
Viamão ganha destaque na mídia estadual, mas a Prefeitura escolhe relaxar medidas de prevenção