Comoções são frequentes – e totalmente justificáveis – em tragédias envolvendo celebridades. A mídia também valoriza por demais casos envolvendo políticos, empresários, ou seja, gente com poder e influência.
Na lógica social vigente, a coletividade aceita se colocar em segundo plano. Assim, é impactante um acidente que causa prejuízos financeiros e/ou mortes de “gente importante, e/ou cheia de talento”, mas se normaliza a perda prematura de 600 mil vidas em uma pandemia, por exemplo.
Por isso, ninguém ou quase ninguém soube do atentado na aldeia Pindó Mirim, em Itapuã. A pequena área indígena em Viamão, com pouco mais de 20 hectares, foi alvo de um incêndio criminoso na madrugada do sábado (13). O fato só virou notícia nesta quarta-feira, quatro dias depois após a Polícia Civil informar que investiga o caso.
Atribuo eu este descaso pelo fato de que Indígena não vende jornal, suas dores e questões não viram debate nas redes sociais.
A casa de reza, dois veículos e um espaço usado para armazenamento de alimentos foram destruídos. Parte dos mantimentos foram salvos das chamas.
As terras onde vivem os indígenas do povo Mbya Guarani pertence ao governo do Estado e está cedida a eles. Contudo, é alvo de disputas envolvendo posseiros, madeireiros e de um pretenso proprietário. Lideranças indígenas relatam sofrerem constantes ameaças para que deixem as terras. Cobram também ação de autoridades políticas e policiais de Viamão e do Palácio Piratini.
Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Sul, “a Terra Indígena Itapuã está com o procedimento de demarcação em curso desde 2009. O relatório circunstanciado da área foi concluído e encontra-se na Funai em Brasília, faltando apenas publicação no Diário Oficial da União. Pelos estudos se concluiu que a terra é de ocupação originária e tradicional do Povo Guarani, de acordo com o coordenador do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Sul, Roberto Liebgott.
Lamentável a falha da Imprensa. Imperdoável a demora na ação governamental e policial.
Sem palavras para classificar o tipo de pessoa capaz de atear fogo em comida e amedrontar gente para que deixem suas casas.
A idade média nunca esteve tão atual como no Brasil de hoje.
Colaboração: Cimi – Regional Sul