Usando a expressão de um amigo e colega de profissão, a Câmara desceu ao pré-sal da política. Realmente, fundo do poço é pouco para definir os últimos dias, e talvez os próximos. Há oito dias, vereadores, assessores e caciques dos partidos cavam cada vez mais fundo.
E alguns estão soterrados nos próprios atos.
A morte de Russinho completou uma semana, e não vimos uma homenagem oficial, nada além do luto anotado em papel. Enquanto isso, a briga pela cadeira de prefeito não cessa.
É aquela tal de cadeira que ninguém quer, que só está sendo disputada porque “o outro lado não respeita a lei”, porque “não podemos fugir da responsabilidade”, porque “a cidade exige atitude de seus vereadores”.
Brigam descaradamente, ao ponto de que poderemos ter nas próximas horas um terceiro prefeito interino em sete dias.
Mas é tudo em nome do povo.
O que se viu e ouviu nas duas sessões extraordinárias de ontem (29) foi uma sucessão de “levanta e corta”, como se diz no vôlei. Um fazendo a escadinha para o outro brilhar. Não vou citar nomes, quem quiser pode acessar a íntegra dos vídeos aqui. Foram mais de três horas de discursos apontando culpados, justificando ações, fazendo críticas a adversários e nenhuma proposição relevante. Três horas e oito minutos apenas jogados ao vento para que os ritos legais permitam que nos dois encontros de hoje (30) possa ser efetivada a dissolução da mesa diretora do Legislativo, ato que derruba Evandro Rodrigues (DEM).
Ouvindo os parlamentares, fica a impressão de que o culpado é sempre o cara da mesa do lado. Mas todos na Casa têm culpa pela situação em que a cidade se encontra.
Dilamar é o nome em que todos centram fogo. Sim, ele tem responsabilidade por não querer tomar seu lugar, assumir as obrigações e as prerrogativas legais do cargo que ocupa. Mas a partir daí, se papel aceita tudo, como prova a destituição da mesa mais fake da história, tentada na semana passada – e a Justiça me dá razões para assim pensar – não se pode ignorar os atestados médicos do presidente afastado.
Não é desagravo, até porque já disse que o socialista errou em artigos como esse: Viamão sem prefeito: Xandão Gomes diz que responsabilidade é de Dilamar e que renunciará se for notificado para assumir a Prefeitura. Há sim a culpa do presidente licenciado. Mas ocorre que a partir daí, absolutamente nada está livre de críticas.
Nada, nem ninguém.
Enquanto nos microfones rolavam ilações de poderio político e influência de vereadores sobre cargos no Executivo, nos bastidores discutia-se, justamente, a manutenção de cargos. Uma espécie de “mensalinho”: “vota com esse que não mexemos nos teus dentro da Prefeitura”… “muda de lado que na campanha a gente se acerta”.
Se tem notícia de pelo menos três acordos diferentes em andamento. Só na hora “H”, quem der mais ou perder menos nas negociações terá êxito. Vou poupar os leitores de todos os detalhes e evitar o que depois, com as melancias acomodadas, vão querer colocar como “barrigada” (erro de informação) na conta deste jornalista. O fato é que estão buscando uma forma de acomodar todos os interesses, não deixar ninguém sem uma fatia do bolo, um docinho que seja.
Eis alguns pontos:
1 –
Nos malabares hoje conduzidos por Eraldo Roggia (PTB) e que juntam do mesmo lado partidos como PP, PT, PDT, PSD, PSDB e PSL, Nadim e o próprio Eraldo já estiveram bem cotados para a Prefeitura.
2 –
Na outra mão, surgiu boato da renúncia de Evandro, que assim poderia retomar a mesa e anular as ordens de Eraldo de domingo para cá. Se isso ocorrer, vai pegar mal, pois só legitima o discurso da briga pelo poder. Ou o grupo que faz toda essa volta deixaria novamente a cidade sem prefeito em nome de garantir não sair sem nada dessa disputa? À coluna, o prefeito em exercício não quis comentar. Preferiu destacar notícias dos seus dias de gestão.
3 –
O mais plausível seria Evandro deixar o Gabinete no fim do dia, voltar para a Câmara e ver como fica seu futuro político. Já que estará impedido de concorrer ao Legislativo, pode ter, conforme o que se desenhar nesta tarde, lugar até no secretariado do novo prefeito.
Tem a “milagrosa” e improvável volta de Dilamar ainda nesta quinta-feira. Só não escrevo que é chance nula porque a política impede.
4 –
Na tentativa de deixar o negócio bom pra todo mundo, nada proíbe um acordo para manter Evandro prefeito. Tudo depende de quem ganha e onde ganha.
5 –
André Pacheco tem emissários negociando em todos os lados. E os dois lados podem oferecer a cassação do prefeito afastado como moeda de troca.
6 –
Em suma, a briga declarada hoje é de DEM, MDB e PSB contra PP, PSL e PTB. Resta saber se PDT, PSDB e PT vão meter as mãos além dos bastidores. Nas internas, os extremos políticos avaliam que é melhor deixar com o “centrão” viamonense o desgaste. Porém…
7 –
Se tudo falhar, PSB tem na manga um novo debate sobre a validade da sessão presencial. Há o entendimento que após denúncia de aglomeração de Maninho Fauri (PSD), os encontros só deveriam ocorrer de modo remoto. Mas é pano pra outra manga.
8 –
Resumindo, agora todos fazem contas, mas jogam para a torcida. Na hora do voto é que veremos que bicho deu mais esse capítulo da política local.
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