Ok, partindo desse título você deve estar imaginando que lá vem bomba. E realmente vem, pois calcinha é uma coisa complicada em vários sentidos. Primeiro que ela envolve uma parte do meu corpo que eu nem sei como chamar. Se eu falo "buceta", sou bagaceira. "Vagina" é meio correto demais. Quando falo "pepeca" me sinto como uma criança de 8 anos. Há quem dê nomes como Preciosa, Perseguida, Berenice.
Calcinha nunca foi uma coisa simples. Sempre prezei pelo meu conforto, ainda mais na época da adolescência em que viver já é desconfortável. Gostava – e ainda gosto – de calcinhas mais largas, pois tenho a maldita genética das "ancas largas". Cintura fina, mas ancas largas. É só usar uma alcinha mais fininha e eu já tenho uma anca dividida em duas, como dois gomos de bergamota. Diz minha vó que ancas assim são boas para parir; eu digo que ancas assim são boas para trancar a calça jeans no meio do caminho.
Calcinha é aquele tipo de coisa essencial, mas que ninguém precisa saber que você está usando (assim como cera quente para depilar o buço). Acontece que muitas vezes todo mundo sabe a roupa íntima que você está usando, e você nem precisa tirar as calças para isso, pois o elástico da sua calcinha diz tudo. Eu já fui motivo de chacota em meu grupo de amigas, pois eu não tinha duas nádegas, e sim quatro. E foi aí que eu resolvi comprar meu primeiro fio dental.
Cheguei na loja de roupas e fui diretamente à sessão de roupas íntimas com o intuito de transformar minha bergamota em uma bunda consideravelmente bonita. Gente, desculpa, mas eu acho horrível a sensação de comprar calcinhas em público. Eu escolho, dou uma rápida analisada para ver se está tudo nos conformes e ponho rapidamente na bolsa de compras, pois se eu levantar a calcinha fio e admirá-la, pessoas ao meu redor darão aquela olhada do tipo "hmmm, hoje tem!".
Quando vesti minha calcinha fio pela primeira vez, pensei "agora entendo o motivo por que minha vó usa quase um para-quedas". É confortável e ponto! Sendo bem sincera, não vejo problemas em "desatolar" a calcinha da bunda, mas e quem tem vergonha faz como? E é sempre aquela velha história: você acha que ninguém está vendo, mas todo mundo já sacou aquela sua paradinha atrás do arbusto.
Gostando de rótulos ou não, sua calcinha fala por você. Comecei a acreditar nisso no Natal de 2014, quando minha tia resolveu dar uma calcinha a todas as sobrinhas. Minhas primas abriam os pacotes e a mulherada ia à loucura com o poder sensual que aquelas calcinhas carregavam: vermelhas, brancas, de lacinho, com renda e tudo o mais que você possa imaginar. Abri meu pacote seguindo o mesmo ritmo das outras e quando tirei a calcinha para fora, o que antes parecia uma selva virou um silêncio constrangedor. A calcinha era larga, rosa bebê, de algodão com um coraçãozinho na traseira escrito "I love you". Segundos depois, uma de minhas primas começa a ter um surto de riso, e o que era um silêncio constrangedor se transforma na sessão vamos praticar bullying com a Amanda.
Minha tia olhou para mim e disse "é que a Amanda ainda é pura". Até hoje me pergunto se "pura" significa "recatada e do lar" ou apenas "olha para a cara dela, óbvio que ela não transa. A última vez que viu pênis foi no livro de Biologia da escola".
Enfim, há quem utilize apenas fio dental; há quem defenda o uso de calcinhas largas e confortáveis; há quem não use calcinha! E há pessoas, assim como eu, que usam a primeira que aparece na gaveta. Se você está contente com sua calcinha é o que importa, e se alguém reclamar é porque não conhece o tesouro que há por baixo dela.