Um ‘exame’ político, jurídico e de bom senso poderia diagnosticar que Valdir Elias, o Russinho, saiu ‘contaminado’ da reunião do MDB que o lançou pré-candidato a prefeito de Viamão.
Explico.
Antes, um pouco de contexto.
A confirmação de que Sarico Moura está abrindo mão da candidatura para apoiar o vice que assumiu com o afastamento de André Pacheco pela Operação Capital, a ‘Lava Jato de Viamão’, foi dada por Fábio Salvador, que estava lá e sabe tudo sobre o partido.
O jornalista postou em seu perfil de Facebook, menos de uma hora após a reunião, na noite desta segunda:
– Jair Mesquita falou sobre seu afastamento e enumerou as acusações que existem contra ele, demonstrando seu lado da história em cada uma delas.
– Boa parte dos problemas provém de na gestão de contratos, vindo já de momentos anteriores. Ele está pagando o pato.
– A gente torce pela volta do André Pacheco, mas Russinho é o nosso prefeito. E será ELEITO em outubro como titular. Sarico deixa de ser o pré-candidato e a aposta está toda no prefeito em exercício.
– Ficou claro que o Russinho conseguiu se articular bem, logo após a Prefeitura cair no colo dele como uma batata quente. Agora é seguir o rumo certo, bem assessorado pelo partido e botar o município em ordem, após o temporal.
– Partidos diversos já se juntam a essa ideia. Evandro Rodrigues, líder do DEM, discursou neste sentido.
– Belamar Pinheiro (PSDB) será muito bem vinda se assinar ficha no MDB. Aliás, não sei por que não assinou hoje mesmo. Parecia pronta para isso.
– Salão lotado. O MDB é realmente o maior e mais bem organizado partido em Viamão hoje.
Analiso.
Começando pelo fim: o ‘contágio do bom senso’.
Não pega bem o prefeito participar de uma reunião partidária – com “salão lotado” – logo após decretar a suspensão das aulas e de eventos públicos como medida contra crise do coronavírus.
Elogiei horas antes, em Russinho age bem na crise do coronavírus; o Jim Jones de estimação, critico horas depois: é um símbolo ruim, um ‘faça o que eu digo, não faça o que eu faço’.
Outro ‘contágio’ que parece inevitável a Russinho é o político.
Pelo protagonismo que ganhou no relato de Salvador, Jair Mesquita, procurador-geral também afastado por 180 dias por ordem do Tribunal de Justiça, mostrou que ainda é todo poderoso no partido.
Tratei das responsabilidades do advogado em Procurador-geral é ’avalista’ de contratos de um prefeito; a ’Lava Jato de Viamão’.
Ao ser indicado por Mesquita como pré-candidato, Russinho torna-se também avalista de um político afastado devido a uma investigação por suspeita de irregularidades em contratos firmados pela Prefeitura.
Improvável é que um processo dessa magnitude, o qual o Ministério Público tem 180 dias para apresentar a denúncia, chegue a uma sentença antes da eleição de outubro.
Fato é que, inocente ou culpado, Mesquita levantou o braço de Russinho como candidato a prefeito.
Já o ‘contágio’ jurídico também não pode ser descartado. É um risco. Conforme a Operação Capital, André Pacheco, o vereador Sérgio Angelo, Mesquita e os outros quatro secretários afastados não podem conversar entre si.
Em relação a Russinho não há nenhuma decisão judicial.
Mas é no mínimo constrangedor o prefeito restar próximo a uma personagem da ‘Lava Jato de Viamão’ que não pode entrar no prédio da Prefeitura.
Ao fim, ‘contágio’ certo em Russinho é o do gosto pelo poder. Tanto que abrirá mão de uma eleição confortável a vereador (não vai renunciar à Prefeitura até abril para poder concorrer) em troca de uma nada certa candidatura a prefeito.
Quem conhece um pouco política, já sabia.
Como dizia Millôr, “nenhum desses governantes têm um itinerário; o que eles gostam mesmo é de ficar no volante”.
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