Durante um episódio da série americana The Middle (no Brasil conhecida como The Middle: Uma família perdida no meio do nada), as personagens Frankie, a mãe, e Mike, o pai, celebram a chegada do verão e das férias. Em alguns segundos o casal relembra as brincadeiras da infância, as viagens em família, os piqueniques… enquanto os filhos estão entediados em frente ao celular, a televisão e o computador. Foi quando eu percebi que algumas coisas mudaram e que eu tive a sorte de ter momentos especiais durante as minhas férias de infância.
As primeiras lembranças têm gosto de terra. A minha família costumava passar as férias em um sítio localizado no município de Gravataí, bem perto do Morro do Itacolomi. Lá eu acordava bem cedo para correr em volta das árvores. Era mais do que divertido sair correndo como um avião, de braços apertos, sentir o vento batendo no rosto e ouvir o meu avô repetir: “Olha a Nanaco aí!”. Nanaco era o jeito carinhoso que ele tinha me apelidado. No sítio a gente pulava em árvores, comia melancia em grupo, aproveitava a chuva para tomar banho e até fazia amizades com as cobras… demonstrando que crianças não tem medo!
Passaram alguns anos e nós resolvemos ir à praia. Nessas lembranças, o gosto é de sorvete de creme e areia. Muita areia. Há uma quadra da beira da praia de Salinas, o litoral norte do Rio Grande do Sul, a criançada do condomínio esperava ansiosa pelo sorvete depois do almoço. Era sorvete de verdade, mas não, ele não chegava em potes ou vasilias, ele vinha de ônibus! O ônibus do sorvete era uma verdadeira fábrica de desejos. No lugar dos acentos e do cobrador, haviam frezeers carregados de vários tipos de sorvetes. Bastava juntar umas moedas para que duas bolas de sorvete de creme surgissem equilibradas dentro de uma casquinha. Depois de tanta euforia, a criançada se juntava em volta de uma televisão de tubo e um videogame para “descansar”.
Após o descanso, partíamos para a segunda etapa do banho de mar, nesse momento era proibido levar toalhas, pranchas, brinquedos e até o chinelo. A brincadeira era simples: rolar nas minis dunas de areia da plataforma de Salinas e correr para o mar. Porém isso acontecia umas doze vezes. Era diversão que não acabava mais! E a areia depois do banho também…
Já na pré-adolescência, com uns 10 anos, caminhar até à beira da praia já não era tão empolgante. Levar brinquedos para fazer castelos de areia era menos ainda… Mas essas férias foram muito doces. Eu até acompanhava minha família nas indiadas até o mar, mas o divertido era ficar deitada na cama, olhando para o teto, acompanhada do meu DiscMan azul que só tocava o álbum Democracy da banda Papas da Língua e esperar pelos sonhos caseiros de doce de leite. Esse sonho vinha em uma bicicleta, duas vezes na semana, cheio de açúcar e muito recheio. Tinha de “mumu”, de creme de baunilha, de goiaba… era um verdadeiro sonho em duas rodas! Eu não recordo bem o número de sonhos consumidos naquele verão, mas acreditem: foram em torno de 20, em duas semanas.
Depois de adolescente, eu entendi que praia é sinônimo de descanso e comida boa. Era obrigatório ter sorvete, crepe de chocolate, tapioca de pasta de amendoim, tainha assada na brasa, casquinha de siri, camarão, 10 horas de sono mais uns cochilos na rede. Mas vocês devem estar perguntando: mas só as férias de infância têm boas lembranças? Claro que não! A mais recente é de 10 crianças pulando juntas na piscina da pousada e interrompendo o meu sono da tarde. Fui obrigada a levantar da cama, sair do quarto, caminhar até a beira da praia e encontrar o músico Nei Lisboa contemplando a paisagem. É uma boa lembrança, não concordam?