Quando o secretário Glazileu Aragonês esteve na Câmara, em maio, ele afirmou que o protocolo de prevenção e combate ao coronavírus de Viamão previa a instalação de um hospital de campanha. Na ocasião, o diretor do Departamento de Vigilância em Saúde Clayton Ferreira estava junto e deu até indicação de local para a montagem da estrutura: ao lado da Secretaria da Saúde, na parada 44.
Foram falas pontuais, embora tenha ficado muito claro que os dois gestores da Saúde local não viam necessidade de tal serviço por aqui. Vale relembrar o próprio Aragonês dizendo que "70% da população terá infecção pela COVID-19".
Tudo em uma única noite.
Passados 60 dias, o Hospital Viamão (HV) informou que está superlotado e, para evitar o colapso, pediu ao Estado, no sábado (19), para não receber novos pacientes. Nesta terça-feira (21), após 63 dias, chegou a hora de colocar o prometido hospital de campanha para funcionar. Porém o andar da carruagem indica que a solução será outra.
Nesta tarde foi realizada mais uma reunião entre a Prefeitura e a direção do HV para discutir a habilitação de leitos complementares na própria casa de saúde. A comunicação social da Administração, que admitiu a negociação, não forneceu detalhes do encontro até o início desta noite. Fontes da Secretaria da Saúde dão conta de que a negociação está sendo realizada sem a participação do secretário Glazileu Aragonês, em isolamento domicilar desde a semana passada, após realizar teste para identificar infecção pelo corona (o resultado, oficialmente, ainda não saiu).
A coluna ouviu o diretor técnico do HV, João Almir Camargo Jorge. Conforme ele revela, as conversas envolvem a compra de 20 leitos. A exemplo do que foi feito recentemente na Santa Casa da Capital, a ala pediátrica do hospital local seria adaptada para receber novos pacientes adultos.
– Estamos conversando com Conselho Municipal de Saúde, Estado e Prefeitura. Essa (compra de leitos) é uma alternativa mais rápida do que construir um hospital de campanha, que demoraria mais tempo para começar a atender – resumiu João Almir.
De acordo com o diretor, o objetivo é criar vagas de enfermaria. O custo estimado é de R$ 900/dia por paciente. Cabe destacar que um hospital de campanha conta também com vagas de UTI, portanto com mais recursos do que a proposta em andamento. E que um leito de Terapia Intensiva tem diária de R$ 1,8 mil por interno.
– A conversa com o município, no sentido de aumentar os leitos de enfermaria COVID-19 evoluiu bem.
Me parece que se concretiza em, no máximo, 48 horas – revela.
Quem pagará a conta?
Não temos 70% da população contaminada, felizmente. Bastaram 526 – a maior parte atendida em Porto Alegre – para nosso sistema de Saúde beirar o caos. Com Russinho entre os internados de UTI e com Aragonês à margem da discussão, fica difícil achar a resposta para essa falha de planejamento. Em maio, nem tão distante assim, declararam que o hospital de campanha estava nos planos futuros, Mas será que ninguém previu que seria necessário um mês ao menos para colocar a estrutura em pé?
Em resumo, quatro meses após a confirmação do primeiro caso oficial de COVID-19, Viamão está atrasada, assim como as notificações de casos. Agora, o valor de cada leito é o de menos.
Desde que o preço não seja mais vidas perdidas.
Em números:
UTI COVID-19 (100% ocupação):
– 10 pacientes, sendo sete em ventiladores mecânicos;
– 3 em máscara de hudson;
UTI Geral Adulta (100% ocupação):
– 15 pacientes (100%), 11 deles em ventilação mecânica;
Sala Vermelha:
– 4 casos instáveis, sendo 3 aguardando vaga em UTI Geral
Sala de medicação:
– 2 pacientes adultos aguardando leito de Enfermaria geral;
Sala de observação:
– 16 adultos em observação clínica, aguardando exames complementares;
Emergência:
– Poucas macas disponíveis.
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