Viamão pode ter 12 vezes mais infectados por covid-19; reabrir ou não comércio?

URS Centro recebendo desinfecção que equipes da Prefeitura fazem em unidades de saúde e área de maior movimento

Viamão tem mais de 12 vezes o número de casos confirmados da covid-19, conforme pesquisa apresentada nesta quarta pelo governo do RS, cujos resultados completos você lê clicando aqui.

O número de casos suspeitos de coronavírus notificados subiu para 130, sendo 22 casos confirmados, com oito pacientes em isolamento domiciliar e dois internados em enfermaria. Outros sete pacientes ainda aguardam pelo resultado do exame. Estes são os números oficiais.

É um levantamento otimista frente à aplicação que fiz de estudo realizado pelo governo do Distrito Federal, que indica um potencial de 3,6 mil infectados em Viamão. Mas foquemos no estudo gaúcho, realizado por universidades públicas, e que já apresentei em O estudo que prorrogou para o dia 30 abertura do comércio; Viamão teria 15 vezes mais casos, porque é o modelo matemático e epidemiológico que orienta o governador nos decretos de distanciamento social – seguidos pelos nossos prefeitos.

Na live de ontem, Eduardo Leite não sinalizou prorrogar a ‘quarentena’, que conforme seu último decreto termina nesta quinta na região metropolitana. Significa que o comércio pode reabrir a partir do feriado da sexta.

– Vamos conviver muito tempo com o vírus. Não há como parar tudo para sempre. As pessoas precisam garantir o sustento. Estamos formando indicadores, conforme a velocidade do vírus e a capacidade de leitos, para permitir a retomada conforme cada região – disse, sem apresentar dados regionais para além da pesquisa que nos últimos dois meses já atingiu 9 mil pessoas no Estado.

Em Viamão, comerciantes pressionam Russinho pela reabertura, que só não libera geral graças ao Ministério Público, firme e atuante em defesa da vida. A saída para o prefeito em exercício é esperar pelo governador para apresentar regras sanitárias para a retomada em um ‘distanciamento controlado'.

Não deveria, analiso, e não ‘opino’, já que minha argumentação toma como base o estudo gaúcho que fez 4,5 mil testes em nove cidades, que correspondem a 31% da população, e no qual Canoas foi a ‘cidade sentinela’ para Viamão.

Além de especialistas como Eduardo Sprinz, chefe da Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, alertarem para a necessidade do distanciamento social por 10 semanas (chegamos à metade disso), os dados da pesquisa científica comandado pela UFPEL são preocupantes.

Antes, o trágico quadro geral: pelo indicador R, do Imperial College, instituto mais usado no mundo para medir a pandemia, o Brasil tem a maior taxa de contaminação do planeta: 2,8. Significa que cada infectado contamina outros 3. Na Alemanha é 0,8, ou 1 para 1.

Com 5.466 mortes, o país do presidente que chamou a COVID -19 de ‘gripezinha’ ultrapassou a China em óbitos. A taxa de letalidade – que é a proporção entre casos e óbitos – é de 7%. Só nas últimas 24h foram confirmados 6.276 casos de infecção pelo SARS-CoV-2. No total, há 78.162 confirmações oficiais de brasileiros que tiveram contato com o vírus: 34.132 curados (44%), 38.564 (49%) em tratamento/acompanhamento e outras 1.452 mortes sob investigação.

No Rio Grande do Sul são 1.420 casos oficiais, com 51 mortes. Os recuperados são 825 (51,8%), os pacientes em tratamento/acompanhamento são 544 (38,3%) e os óbitos 51 – uma taxa de letalidade de 3,65.

Pela pesquisa apresentada ontem pelo governo do RS, quando os casos estavam em 1.350, o contágio já chegaria a 15 mil pessoas. Na primeira fase da pesquisa, cujos exames foram divulgados em 1º de abril, eram 5.600. Nos 4,5 mil entrevistados em cada fase, na primeira foi detectada uma infecção a cada 2 mil; na segunda 1 a cada 769.

O percentual de pessoas com anticorpos, ou seja, que já tiveram contato com o vírus, tenham ou não manifestado sintomas, é de 0,13%. Na estimativa, em um milhão de habitantes, a população de Porto Alegre, teríamos 1.300 infectados. Em Gravataí, com 281 mil habitantes, 422. Significa que o potencial de contágio ainda é imenso.

Mas o dado que reputo mais preocupante é relativo à alta taxa de transmissibilidade. Familiares dos casos detectados como positivos pela pesquisa também foram testados: 75% também estavam contaminados. Poderia ter chegado a 100%: dos seis, um morava sozinho e em outro caso, onde quatro familiares foram positivados, um quinto que morava na residência não foi localizado para fazer o teste.

Essa ‘virulência do vírus’, aplicada sobre os dados que mostram que as pessoas estão aos poucos abandonando o distanciamento social, permite a projeção de um longo inverno de contaminação.

Na primeira fase da pesquisa do governo do RS, 20,6% das pessoas saiam diariamente de casa. Um mês depois, são 28,3%. O percentual dos que ficam em casa reduziu de 21,1% para 18,3%.

A força de ‘cura’ do distanciamento social é reforçada pela ‘interiorização’ do vírus. No início de abril, Porto Alegre tinha 190 casos e o restante do RS 115. Dados de hoje mostram que enquanto a Capital teve duas vezes mais casos, no interior o número de infectados multiplicou por sete, atingindo um quarto do Estado.

Lajeado, uma das cidades que abriu antes o comércio, já no período da Páscoa, já é o terceiro em casos e mortes no RS (84 e 4). Como consequência, nesta quarta o prefeito Marcelo Caumo decretou um lockdown, o fechamento total de qualquer atividade entre a noite desta quinta e a manhã da próxima segunda.

Passo Fundo, outra cidade onde o ‘liberou geral’ começou com a autorização para a venda de chocolates, a explosão de casos já faz com que 9 a cada 10 leitos de UTI estejam ocupados. Para se ter uma ideia, Porto Alegre, o ‘epicentro’ da COVID-19 no RS, tem 560 leitos com uma ocupação de 66,2%, 

Ao fim, figura que criei, os comerciantes passam mal ao ver os boletos chegando e perdem cada vez mais a respiração com a chegada do dia 5, o pagamento dos funcionários. Mas a pesquisa do governo do RS – ao mostrar que, em resumo, há um grande público alvo para contágio e uma alta taxa de transmissão, que explodiu nas cidades que saíram do distanciamento social – não garante segurança nenhuma de que é o momento adequado para a retomada das atividades econômicas.  

Parece-me que reabrir não é nada além de desespero pela quebradeira geral, como demonstra a declaração do governador, que reproduzi neste artigo. Evidência da certeza de Eduardo Leite de que o sistema de saúde vai colapsar é que ainda hoje fez um apelo ao Ministério da Saúde por mais 298 leitos para o RS, que tem um total de 1,7 mil.

– Há cidades que não adotaram medidas de isolamento, ou tiveram um comportamento mais relaxado em relação à determinação de manter as pessoas em casa, agora as UTIS estão ficando lotadas – avaliou o infectologista do Hospital Conceição André Luiz Machado da Silva, para GaúchaZH.

Talvez Russino possa agir como gestor, e não como um mero político, aparecer publicamente e transmitir tranquilidade para a população de Viamão. Infelizmente, não vejo como. Urge que o chefe do Executivo informe até onde podemos ir. Vamos reabrir apostando no bom comportamento da população e no respeito às regras sanitárias pelos comerciantes mas, provavelmente, precisaremos fechar tudo de novo.

Um lockdown talvez chegue antes do frio.

Se Viamão é uma incerteza, o Brasil não: somos o próximo Estados Unidos, hoje epicentro do novo coronavírus.

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