Uma chuvinha fina inundava a praia. Na extensão da areia, ao invés de "bitucas" de cigarro e latinhas de cerveja, o que se avistou foi uma máscara cirúrgica jogada ao vento. Quem a teria usado? Quem a teria descartado? Surfistas? Visitantes do fim de semana? Sei lá. Mas ela estava lá. Testemunha de um tempo difícil para toda a humanidade.
Aos poucos e, um a um, os guris do surf foram chegando. Com suas roupas emborrachadas. Seus carros de som alto. Tocando Raul Seixas, Bob Marley e muito reggae. Alheios à tragédia do coronavírus eles queriam mais é praticar um esporte radical. Embalarem-se nas ondas de sal, como se elas fossem a vacina para a doença. Doença infame, que se alastra em nosso planeta. E, que traz tanto sofrimento.
De longe os surfistas pareciam só uns pontinhos pretos no horizonte. Mas eles estavam a cem metros da praia em seus lances acrobáticos dentro do mar. O espetáculo continuava em meio a pandemia. Para eles, o mar é a vida. E não entendem os que não surfam. Quando chove e depois dos temporais, o mar fica muito agitado. É nesta hora que os guris chegam. É nesta hora que as ondas embalam seus sonhos. Num só objetivo: desfrutar de um esporte radical.
De tardezinha e, com o sol tímido do outono, eles saem do mar. Uns tremem de frio em contato com a outra temperatura. Outros correm com suas pranchas pela areia da praia. Como quê abandonando uma tarefa que é só prazer. Satisfação esta, que não é quebrada por nada neste mundo. A única satisfação é quebrar ondas. Que em volumes de espuma, sal e luz, proporcionam enorme adrenalina.