Coluna do Gustavo | Qual o problema do pop?

Em uma das muitas aulas que já tive em minha vida, a professora comentou sobre o conceito da cauda longa. Ela disse que estudou o assunto por um semestre inteiro, então nossos dois encontros para discutir este fenômeno serviriam apenas para introduzir a ideia. Digo isso para justificar esta vã tentativa de trazer alguma luz sobre o tema em apenas poucas linhas. Eis minha breve, e livre, interpretação. Com o advento da era digital, o custo de produção de mídia teve uma redução drástica pelo fato da informação não precisar mais ser consumida por um meio físico. Jornais e livros não precisariam mais ser impressos para serem lidos, discos e cd’s não mais precisariam ser gravados para as músicas serem ouvidas, filmes não precisariam da venda de fitas e dvd’s para serem assistidos.

Esta situação alterou a forma como marcas, gravadoras, editoras e estúdios direcionavam seus produtos para os consumidores. Antes, o gráfico de vendas era proporcional ao conhecimento do público por determinado artista ou conteúdo. Os pouquíssimos que atingiam popularidade global eram responsáveis por um percentual elevadíssimo da receita. Estes estavam na crista da onda. Mas a onda tinha uma cauda. Uma cauda muito curta de apostas menos populares e, por consequência, menos rentáveis. Não era interessante gastar para produzir um material sem garantias de consumo e transformação do investimento em lucro. O pop se tornou cada vez mais pop e os ídolos, por mais distantes que estivessem, e talvez até por isso que tinham fãs, eram muito poucos.

Como um ação sempre acarreta uma reação, o reflexo foi o aumento da contracultura. Enquanto o conhecido aparecia cada vez mais na mídia, quem era do contra julgava o popular como uma imitação das tendências atuais, as explorando para criar algo com o único objetivo de agradar ao maior número de pessoas. Para eles, alguém se dedicando não para ser autêntico, mas para criar o melhor produto para ser consumido, aparentava ser o talento desperdiçado. Poderia ser algo inovador, mas era só mais do mesmo. Quem buscava a fama, era considerado um vendido. Mesmo isso nunca tendo sido um problema para mim, nem sei quantas vezes já percebi como duas pessoas conseguem discordar quando o assunto é o interesse pelas tendências ou a falta dele.

Para quem buscava assistir, ler, ouvir, enfim, consumir, apenas aquilo que considerava o verdadeiro talento, era necessário garimpar para se satisfazer, pois o conteúdo que supria esta necessidade não era facilmente disponibilizado. Mas isso mudou. Agora, a onda da criação de conteúdo ainda tem uma crista onde ficam alguns populares, mas a cauda aumentou. Agora a cauda é longa, porque não há mais necessidade de tanto investimento anterior para disponibilizar um produto, e mesmo quem não gosta tanto de pesquisas demoradas para encontrar algo agradável, precisa apenas de uma boa indicação. Fácil. Agora, além dos poucos muito conhecidos, há também muitos pouco conhecidos.

É desnecessário ser popular para sua voz ser ouvida. E isto é ótimo. Porque além do conteúdo que sempre existirá direcionado para o grande público, a gama de oportunidades para uma mensagem ser transmitida é inúmeras vezes maior. E afinal, qual o problema do pop? Nenhum. Nem melhor, nem pior. Está apenas em outro nível. A aparente simplicidade pode muito bem ser usada para instigar a curiosidade de pessoas que não buscariam algo mais profundo – não querendo dizer que o popular seja raso. Agora há, cada vez mais, a possibilidade de alguém ser atraído por um produto não destinado a abordar um tema específico, mas com grande popularidade, e depois consumir das inúmeras fontes localizadas na cauda, longa e cheia de nichos esperando para serem desbravados e explorados.

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